Em cartaz nos cinemas e disponível para aluguel e compra nas plataformas digitais (Apple TV, NOW, Vivo Play, Google Play e Youtube) desde a última quinta-feira (10), o longa-metragem paraibano A Noite Amarela, distribuído pela Sessão Vitrine, mistura experimentalismo com elementos clássicos do horror para tecer uma parábola sobre amadurecimento (coming-of-age).
O enredo do filme é simples: um grupo de sete amigos chega a uma pequena ilha do litoral nordestino para celebrar o fim do ensino médio e aproveitar seus últimos momentos juntos, antes de cada um seguir um rumo na vida. Logo na primeira noite, porém, o clima da viagem revela-se soturno, e os jovens passam a lidar com o incerto.
Hospedados numa casa há muito vazia e bastante deteriorada, numa ilha sem sinal de celular, os personagens transitam pela linha tênue que separa as memórias de tudo que viveram juntos até ali do futuro desconhecido que os aguarda. Aqui, o foco da narrativa é o coletivo de amigos; portanto, é a partir da interação entre eles que conhecemos um pouco sobre cada um.
Assim, enquanto vivenciam suas últimas experiências como um grupo de sete pessoas, os jovens percebem que, às vezes, não é necessário que monstros se materializem para causar medo.
UM FILME DE ATMOSFERA
Fica a cargo da ousada direção de Ramon Porto Mota a missão de dar personalidade própria à simplicidade da premissa de um filme sobre adolescentes que, isolados, enfrentam o inexplicável – temática tantas outras vezes explorada pelo cinema de terror.
Em A Noite Amarela, Mota assume riscos e alcança transformar nítidas limitações de orçamento em exercícios de técnicas de linguagem audiovisual bem sucedidos. Para manter uma atmosfera ininterrupta de suspense, por exemplo, o diretor aposta nos efeitos de jogos de montagem, luzes e som – que se intensificam mais para o final da trama, quando é chegada a hora do ápice do conflito.
A frequência de tais efeitos dá o tom experimental do filme e consegue coexistir em equilíbrio com o horror e o coming-of-age. Porém, o experimental por si só costuma dividir opiniões, e é possível que aqui isso não seja muito diferente. Se por um lado os efeitos de linguagem revelam o trabalho dedicado de construção de alegorias que o filme se propõe a fazer, por outro tornam o ritmo do longa moroso.
De qualquer forma, todos os signos escolhidos pelo diretor são eficientes na sustentação de uma atmosfera propositalmente desordenada, carregada, inquietante e vertiginosa.
A JUVENTUDE
Servem de contraposição à tensão estabelecida pela parte técnica a enriquecedora presença de regionalismos e a humanidade dos adolescentes protagonistas; indivíduos que vivem o coletivo com certa despretensão, com uma singeleza que chega a parecer novidade aos olhos do espectador.
Isso porque não há em A Noite Amarela jovens com grandes conflitos familiares, problemas com drogas, picuinhas, crises de relacionamento ou de identidade. São apenas jovens comuns; companheiros, tranquilos e afetuosos entre si. Apenas jovens preocupados com o futuro e com medo de, depois de terem crescidos juntos, se desencontrarem graças às peças inevitáveis que o tempo prega.
Amadurecer é de fato um tema universal, mas, neste filme, o assunto ganha contornos bastante particulares e imprevisíveis.
Em outras palavras, A Noite Amarela toma seu próprio tempo, banca suas características singulares e envia sua mensagem de jeito único. Definitivamente não estamos diante de uma produção com características que agradam multidões, mas não deixa de ser positiva a experiência de, ao assistir a um filme como este, perceber que são realmente – e felizmente – ilimitadas as possibilidades do cinema autoral brasileiro.
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Trailer:
Ficha Técnica:
Direção: Ramon Porto Mota
Duração: 1h42
País: Brasil
Ano: 2019
Elenco: Rana Sui, Ana Rita Gurgel, Felipe Espíndola
Gênero: Terror
Distribuição: Vitrine Filmes
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