Autor: Vanessa Panerari
Sex Education é a série original Netflix perfeita para a família tradicional brasileira
Otis Milburn (Asa Butterfield) é o típico adolescente socialmente retraído que faz de tudo para passar despercebido na escola, contando com a parceria de um único e melhor amigo, Eric (Ncuti Gatwa). Ele vive com a mãe, Jean (Gillian Anderson), uma terapeuta sexual. Aos 16 anos, Otis vivencia as contradições de ser um jovem tímido e sexualmente inexperiente mesmo tendo uma mãe “descolada” e aparentemente bem-resolvida.
[Coluna] O engessamento das pautas identitárias nas premiações hollywoodianas
Em 2018, os movimentos organizados por mulheres abalaram as estruturas misóginas de Hollywood. Como resultado de feminismos que vêm sendo discutidos nos últimos anos por toda a sociedade, atrizes e trabalhadoras da indústria cinematográfica norte-americana usaram seus espaços em premiações como Globo de Ouro, Sag Awards e Oscar para dar palco aos seus discursos e denúncias sobre violência de gênero e disparidade salarial no cinema.
O Quebra Cabeça de Tarik
Piripkura e o destino dos povos originários no Brasil de Jair Bolsonaro
O ano de 2018 foi particularmente especial para a produção nacional de “documentários-denúncia” sobre conflitos contemporâneos nocivos aos povos indígenas brasileiros. Tivemos Ex-Pajé denunciando o avanço (e massacre) da evangelização compulsória sobre a cultura ancestral do povo Paiter Suruí; Como Fotografei os Yanomami, expondo o tratamento preconceituoso dado pelos agentes de saúde governamentais ao povo Yanomami; e Piripkura, filme que acompanha um pouco do trabalho de agentes da Fundação Nacional do Índio (Funai), evidenciando a importância da demarcação de terras e os danos irreversíveis já causados pelo Estado (ou por omissão dele) a essas comunidades.
Diablero leva folclore mexicano com qualidade para a Netflix
Foi aos 45 do segundo tempo de 2018 que a Netflix lançou uma de suas séries originais mais especiais e inusitadas do ano. Ambientada na Cidade do México, Diablero acompanha as peripécias de Elvis Infante (Horácio Garcia Rojas), conhecido como diablero, homem que ganha a vida “caçando” demônios, e de Ramiro Ventura (Christopher Von Uckermann), um jovem padre que precisa abrir mão da doutrina cristã para descobrir o paradeiro de uma garotinha sequestrada por forças sobrenaturais.
Diamantino, um deboche português sobre os astros do futebol mundial
, filme português dirigido por Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt, faz chacota escrachada dos astros do futebol mundial. Nele, acompanhamos o muito famoso e pouco inteligente jogador Diamantino Matamouros (Carloto Cotta). Ídolo da torcida portuguesa e inspirado em Cristiano Ronaldo, Diamantino é ovacionado por suas belas jogadas inspiradas por visões de cachorrinhos felpudos gigantes no campo. Porém, quando seu talento começa a desaparecer – e os cachorrinhos felpudos viram purpurina -, o fantástico mundo cor-de-rosa de Diamantino cai por terra.
Culpa, filme dinamarquês semifinalista do Oscar 2019, é umas das obras mais frenéticas do ano
A fórmula básica do gênero policial já é velha conhecida do público e amplamente explorada por filmes e séries. Nela, um crime acontece, policiais aparecem para investigar e daí começa a dinâmica do gato e do rato. Só nos últimos meses a Netflix investiu na distribuição de inúmeras séries policiais, de diferentes países. Todas muito semelhantes entre si, todas pertencentes a uma espécie de zona de conforto do gênero.
[Entrevista] Gustavo Steinberg fala sobre Tito e os Pássaros, animação brasileira pré-selecionada ao Oscar 2019
As melhores séries originais Netflix de 2018
No entanto, cada série adicionada ao catálogo se comporta de determinada maneira. Podemos separá-las em três grupos: o primeiro, formado pelas séries que chegam discretamente ao catálogo e discretas continuam; no segundo encaixam-se as produções lançadas também sem nenhum apoio de marketing, mas que por algum motivo específico tornam-se fenômenos; e o terceiro diz respeito às séries que já estreiam com toda uma estratégia de marketing planejada.
La Casa de Papel pode ser mencionada como grande representante do segundo grupo. Dos últimos dias de 2017 para o início de 2018, a série espanhola tornou-se fenômeno cultural. De repente, os assaltantes da Casa da Moeda viraram ídolos nacionais – principalmente. Foi a partir daí que a Netflix Brasil passou a dedicar atenção à série.
Já como representante do terceiro grupo temos O Mundo Sombrio de Sabrina. A série “trevosa” da bruxinha adolescente parece ser a nova grande aposta a nível mundial da Netflix, e justamente por isso sua estreia contou com campanhas de marketing fortíssimas.
Considerando que acompanhar todo esse fluxo de conteúdo seja humanamente impossível, listamos três ótimas séries originais que estrearam suas primeiras temporadas em 2018, mas que talvez não tenham chegado ao nível de popularidade de La Casa de Papel e Sabrina. Será que você assistiu a todas elas? Acompanhe:
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Samantha!
Os melhores filmes nacionais de 2018
Num ano tão complicado e de tanta violência contra a diversidade, filmes queer, como Tinta Bruta, representaram a resistência do audiovisual brasileiro com louvor no exterior. Documentários também levaram às grandes telas as mazelas do país. O Processo acompanhou a trajetória do golpe parlamentar que derrubou a Presidenta Dilma Rousseff; Ex-Pajé, Como Fotografei os Yanomami e Piripkura se encarregaram de fazer competentes e diversos registros sobre os povos originários brasileiros e seus conflitos contemporâneos.
Também tivemos a grande oportunidade de vermos duas diretoras negras conseguirem chegar com seus filmes ao circuito comercial depois de mais de 30 anos de hiato – antes delas, apenas Adélia Sampaio havia lançado um longa-metragem no circuito comercial, em 1984. Na ficção, Glenda Nicácio dividiu a direção com Ary Rosa e lançou o afetuoso Café com Canela. No documentário, Camila de Morais estreou O Caso do Homem Errado.
Ainda sofremos de gravíssimos problemas de representatividade e distribuição – e tempos difíceis chegarão para a cultura -, mas 2018 foi um ano que demonstrou que é possível avançar. Abaixo, deixamos listados 6 filmes que estrearam neste ano e que acreditamos que você não pode deixar de ver:
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Arábia, dirigido por Affonso Uchoa e João Dumans, estreou logo no começo do ano, em abril. É bem possível que, de lá para cá, muita gente tenha se esquecido de seu lançamento. Mas Arábia foi uma das produções nacionais mais importantes do período e não merece cair no esquecimento.
Vencedor do Festival de Brasília de 2017, o longa conta a história de Cristiano (Aristides de Sousa), operário de uma fábrica de alumínio que morre repentinamente, deixando um diário sobre sua trajetória.
É a partir desse diário que o trabalhador ganha voz e pode, finalmente, contar sua própria história; a história de uma jornada que representa a de tantos outros brasileiros. Cristiano é a representação da classe trabalhadora que se submete a trabalhos insalubres e semi escravos para sobreviver. Trata-se de um homem marginalizado e sem perspectiva. Alguém que até pensa sobre seu lugar no mundo, mas que não encontra meios de mudar a relação trabalho e indivíduo a que foi condenado.
Leia a crítica de Arábia aqui.
Trailer de Arábia (Fonte: International Film Festival Rotterdam / YouTube)
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Benzinho chegou a ser considerado forte candidato para representar o Brasil no Oscar 2019 de Melhor Filme Estrangeiro. A indicação acabou não acontecendo, mas isso não é motivo para deixarmos passar um filme tão intimista, terno e sensível.
Na trama, acompanhamos uma espécie de processo de luto de Irene (Karine Teles), mãe dedicada de 4 filhos que vê seu mundo virar de cabeça para baixo quando o filho mais velho é convidado para estudar e jogar handebol na Alemanha.
A protagonista passa por várias fases “de aceitação” em relação a partida do primogênito. Apegada, ela começa pela negação e chega até a passar pela raiva.
Enquanto vivencia todos esses sentimentos, Irene precisa encarar os desafios de ter um emprego informal que não lhe garante segurança financeira, viver numa casa que precisa de reformas urgentes, terminar de estudar, cuidar dos outros três filhos e ainda acolher a irmã que tenta se esquivar de um relacionamento abusivo.
Em Benzinho, Karine Teles nos entrega uma das personagens femininas mais especiais do ano.
Leia a crítica de Benzinho aqui.
Trailer de Benzinho (Fonte: Vitrine Filmes / YouTube)
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Café com Canela é das obras mais apaixonantes de 2018. Assim como Benzinho, o longa dirigido por Ary Rosa e Glenda Nicácio exala afetividade e emociona.
Aqui, presenciamos o reencontro de Margarida (Valdinéia Soriano) e Violeta (Aline Brunne). Margarida foi professora de Violeta e, há anos, isolou-se da sociedade. Certo dia, Violeta bate na porta de Margarida por força do destino e, apesar de passar por suas próprias dificuldades, fica determinada a recuperar o encanto da ex-professora pela vida.
O longa possui uma estética muito particular e adota elementos quase fantásticos para inserir certa poesia e ancestralidade no cotidiano de suas protagonistas.
Protagonizado e dirigido por mulheres negras, Café com Canela age quase como uma invocação do senso de comunidade que há dentro de nós, além de ser obra fundamental para a diversidade do cinema brasileiro contemporâneo.
Leia a crítica de Café com Canela aqui.
Trailer de Café com Canela (Fonte: Arco Audiovisual / YouTube)
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Como que por ironia do destino, Ex-Pajé, de Luiz Bolognesi, estreou em circuito comercial pouco depois do lançamento de “Nada a Perder”, a cinebiografia do Bispo Edir Macedo. A Ironia se dá porque o documentário de Bolognesi serve justamente como contranarrativa ao grandioso filme religioso do dono da Record TV e da Igreja Universal.
Enquanto “Nada a Perder” narra a trajetória de Edir Macedo como se este fosse um herói nacional, Ex-Pajé denuncia o etnocídio (extermínio de uma cultura) causado pelo avanço da religião evangélica nas aldeias indígenas do Brasil.
O foco do documentário é a comunidade nativa Pater Saruí, onde um Pajé perdeu sua função social na tribo por conta da chegada de pastores. Por ter suas crenças tachadas de demoníacas, o homem deixou sua posição de líder religioso e foi reduzido a um simples funcionário do lugar onde os cultos evangélicos são ministrados na aldeia. É assim que a ancestralidade dos povos originários brasileiros segue sendo criminalizada e exterminada desde a colonização.
Leia a crítica de Ex-Pajé aqui
Trailer de Ex-Pajé (Fonte: Ex-Pajé Filme / YouTube)
AS BOAS MANEIRAS
Em 2018, os diretores Juliana Rojas e Marco Dutra nos presentearam com um filme de lobisomem para chamar de nosso. Um filme contemporâneo, com forte protagonismo feminino, bons efeitos especiais e um jeitinho todo seu de tratar a maternidade.
Na trama, Ana (Marjorie Estiano), contrata a babá Clara (Isabél Zuaa) para cuidar de seu filho que ainda não nasceu. Conforme a gravidez avança, Clara percebe que alguma coisa está errada com o bebê, que mesmo antes de nascer já causa comportamentos estranhos na mãe – principalmente em noites de lua cheia.
As duas protagonistas representam opostos. Uma é negra, a outra é branca. Uma vem de família rica da zona rural, outra vive na periferia de São Paulo. Em comum, as duas têm a solidão e o encontro com o sobrenatural.
Com tom de fábula moderna e repleto de elementos clássicos de terror, As Boas Maneiras consegue ser impressionante por transitar com maestria entre gêneros (musical, conto de fadas, animação, horror, fantasia) e por contar uma história assombrosamente encantadora sobre maternidade e tolerância.
Leia a crítica de
As Boas Maneiras aqui.