Ninguém Sabe que Estou Aqui: da melancolia à doçura

Filho de pai chileno e mãe cubana, o norte-americano Jorge García (Lost) protagoniza Ninguém Sabe que Estou Aqui (Nadie Sabe que Estoy Aquí, no original), drama chileno original Netflix dirigido por Gaspar Antillo. 

Jorge García em ‘Ninguém Sabe que Estou Aqui’/ Divulgação

Na trama, o ator interpreta Guillermo, sujeito introspectivo e com sérios problemas de autoestima que vive isolado com o tio (Luis Gnecco) em uma pequena ilha do sul do Chile há mais de uma década. 

A voz de Memo, como é apelidado o protagonista, foi fenômeno musical entre as pré-adolescentes nos anos 1990. Mas só a voz. Por não atender aos padrões estéticos exigidos dos jovens ídolos teen da época, Memo acabou condenado aos bastidores por seu produtor. Ele gravava as músicas, mas outro garoto, um “mais apresentável”, dava as caras na mídia e colhia os louros da fama. 

Gordo e “pouco másculo”, o personagem acabou impedido de mostrar seu talento artístico ao mundo. É traumatizado pela rejeição que vivenciou na juventude, então, que Memo decide se afastar de tudo e todos. 

Junto de Antillo, assinam o roteiro do longa Enrique Videla e Josefina Fernández.

MELANCOLIA E DOÇURA

Ninguém Sabe que Estou Aqui é do tipo de filme de personagem que cresce conforme avança, dependendo também do nível de conexão do espectador com o protagonista para fluir melhor ou pior. 

Luis Gnecco e Jorge García/ Divulgação

Essencialmente melancólica e carregada, a atmosfera do enredo vai na contramão dos personagens cheios de alívios cômicos antes interpretados por García. Aqui, o ator tem pouco texto para trabalhar e muito ressentimento para transmitir – seja em uma ou outra cena de explosão, seja  na constância brilhante de um olhar profundamente magoado, por vezes desconfiado e sempre cansado.

Após anos de autoisolamento, o marasmo da vida de Memo é ameaçado por algumas visitas inesperadas. A partir daí, o protagonista tem a chance de acertar contas com o passado e finalmente olhar para o futuro. 

Despretensioso no sentido de tecer grandes comentários a respeito das atrocidades cínicas da indústria do entretenimento, Gaspar Antillo trabalha com calma a jornada íntima de Memo. Assim, o foco da narrativa é posto sobre as nuances da mágoa do personagem; bem como nos sutis momentos de cuidado e afeto entre o protagonista e o tio, por exemplo. 

Inicialmente sereno demais, o filme surpreende por sua capacidade de provocar inquietação e expectativa ao longo de todo o terceiro ato. Como resultado, duas gratas surpresas: a delicadeza quase ingênua do fechamento, que após alguns bons minutos de clímax reverte o significado de calmaria na vida de Memo, e a certeza de que Jorge García foi uma escolha acertada para o papel principal.

Leia também: “Tarde para Morrer Jovem, um coming-of-age chileno”

Ficha Técnica:

Direção: Gaspar Antillo

Duração: 1h31

País: Chile

Ano: 2020

Elenco: Jorge Garcia, Luis Gnecco, Millaray Lobos García, Nelson Brodt, Juan Falcón, Julio Fuentes, Alejandro Goic

Gênero: Drama

Distribuição: Netflix

COMENTÁRIOS

Deixe um comentário