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Olhos que Condenam e Guerras do Brasil.doc: duas importantes séries para você assistir em junho, na Netflix
[Coluna] Grandes produções e representatividade: como a indústria cultural tem assimilado debates atuais?
Antes de Mulher-Maravilha estrear no primeiro semestre de 2017 muitas dúvidas pairavam no ar. Como será recebido um filme de uma heroína depois do fiasco que foi Batman vs Superman diante da crítica especializada? Como será recebido um filme de grande orçamento como este, dirigido por uma mulher?
Com a estreia, algumas dessas perguntas foram respondidas. De acordo com o Hollywood Reporter, o filme registrou a maior bilheteria de um filme de live-action dirigido por mulher de todos os tempos, fez a maior bilheteria de estreia de um filme dirigido por uma mulher na América do Norte e foi o filme de herói com melhor sustentação nas bilheterias também da América do Norte em 15 anos.
Todos esses marcos transmitem um recado tanto para o público quanto para a indústria: existe sim uma demanda por filmes protagonizados por mulheres fortes, por heroínas, e também dirigidos por mulheres. Filmes que quebrem um padrão de representação narrativo e estético e que proporcionem representatividade.
É notório que esse recado começa a ser entendido agora. Há algum tempo, nomes importantes da indústria audiovisual têm se dedicado a lançar produções de algum modo voltadas a discussão de gênero, cor ou sexualidade, como é o caso da Netflix. Apesar de ser uma empresa jovem, a plataforma já investiu em séries como Sense8, Las Chicas del Cable, Cara Gente Branca, Alias Grace e Jessica Jones.
Isso significa que as empresas que estão se dedicando a repensar protagonismos e enredos são generosas e benevolentes? Não totalmente, claro. São empresas e, como tais, precisam de lucros. O maior motivo desse movimento de mudança, sem dúvidas, é a percepção por parte de quem vende o produto cultural de que existem nichos que consomem entretenimento e que reprovam o que é retrógrado.
O feminismo, por exemplo, vem sido debatido com muito mais visibilidade. Logo, cria-se um nicho de pessoas que querem filmes, livros, jogos, músicas e séries protagonizados e feitos por mulheres. O entretenimento é político e econômico assim como absolutamente tudo . Nossas escolhas são políticas e, a fim de lucrar, o capital certamente vai nos oferecer possibilidades. Não é de hoje que o capitalismo se apropria de coisas e causas.
Mulher-Maravilha nem de longe é o filme mais feminista que poderíamos ter fazendo bilheterias estrondosas. Ainda faltam heroínas negras, lésbicas, transsexuais. Faltam filmes não americanos fazendo sucesso e chegando a mais gente. Faltam narrativas plurais, distribuição de filmes e de orçamentos mais igualitária e por aí vai. .
Estamos longe de um ideal de representatividade. Não devemos ser ingênuos,tem muito trabalho a ser feito sim. Mas o fato de um filme de heroína causar esse tipo de repercussão no cinema, ou de o novo Doctor Who ser uma mulher pela primeira vez e fazer com que homens, que são representados em qualquer coisa, achem que suas experiências com a série foram destruídas porque a presença de uma mulher é muito nociva a suas masculinidades frágeis, simboliza que, de alguma forma, a indústria cultural não está imune ao esforço das militâncias.
O termo da vez é a =&0=&. Um caminho penoso, mesmo agora que não só as obras são questionadas, mas também o comportamento de quem as faz. 2017 foi o ano que levou Hollywood a se contorcer diante de suas contradições. Enquanto os três filmes de maior bilheteria foram realizados ou protagonizados por mulheres (Star Wars: Os Últimos Jedi, A Bela e a Fera e Mulher-Maravilha), muitos dos
grandes nomes da indústria foram acusados de assédio ou abuso sexual e atores famosos foram retirados das produções em que estavam envolvidos
5 obras de arte do cinema dirigidas por mulheres
É de conhecimento geral que o número de longas-metragens já lançados e dirigidos por mulheres é muito inferior aos que contam com homens na direção. Pensando na questão da representatividade e do olhar feminino por trás das câmeras, selecionamos 5 obras de arte de diretoras dos últimos 15 anos. Tem documentários brasileiros e americano, e ficção francesa e peruana. Confere aí embaixo!
1. ELENA (2012)
Petra Costa parte em busca de sua irmã mais velha, a atriz Elena Andrade, que foi morar em Nova York para realizar um sonho, e nunca mais retornou ao Brasil. 20 anos depois da partida da irmã, Petra vaga pelas ruas procurando encontrar também a si própria, enquanto ouvimos sua doce voz confundir-se recorrentemente à de Elena. A “memória inconsolável” de Petra é a irmã, e “é dela (memória) que tudo nasce” na caçula da família. A poesia e o lirismo presentes na vida da diretora são uma herança de sua mãe e de Elena, que, o tempo todo, refletem-se por dentro e por fora em Petra. A partir disso, o documentário se desenvolve como uma metáfora da ausência que Elena faz na vida da cineasta.
O longa-metragem participou de vários festivais e levou os prêmios de Melhor Documentário no Films de Femmes (França) e no Festival de Havana (Cuba) de 2013, além de faturar Menção Especial no Festival de Guadalajara (México) no mesmo ano, e Melhor Documentário (Júri Popular), Direção, Montagem e Direção de Arte no Festival de Brasília 2012. Você pode assistir à Elena na íntegra no YouTube.
2. A TETA ASSUSTADA (2008)
No Peru, existe uma lenda sombria de que os filhos de mulheres estupradas durante a guerra do terrorismo absorvem uma profunda tristeza através do leite materno, tornando-se igualmente afetados pelos abusos sofridos por suas mães. Fausta (Magaly Solier) é um dos filhos popularmente conhecidos por não terem alma – herdeiros da chamada “teta assustada”. A jovem esconde um segredo simbólico: uma batata introduzida em sua vagina, como forma de “evitar” um estupro.
A diretora Claudia Llosa explora os traumas de uma cultura do estupro, cuja origem se dá desde que a América Latina foi colonizada por europeus. A personagem de Solier representa as mulheres peruanas que convivem diariamente com o fantasma de terem seus corpos violados. E, dessa forma, a protagonista manifesta toda a dor sentida por tantas mulheres, levando um sentimento de acolhimento às espectadoras familiarizadas com tal situação, assim como de surpresa e horror àquelas que nunca passaram por algo parecido. Um drama impactante, mas necessário. A Teta Assustada foi o ganhador do Festival de Cinema de Havana e do Urso de Ouro, em 2009.
3. A 13ª EMENDA (2016)
Quando Ava DuVernay foi convidada pela Netflix a fazer um documentário com o tema que quisesse, a cineasta não hesitou em explorar as consequências da pós-abolição norte-americana. Pertencente à Constituição dos EUA, a 13ª Emenda consiste na abolição da escravatura e da servidão involuntária – salvo em casos de punição por crimes pelos quais o réu tenha sido condenado –, sendo adotada formalmente em 1865. Entretanto, até hoje, assim como no resto dos países do mundo que sofreram com o sistema de escravidão, a prática deficiente da Emenda implica na prorrogação do racismo institucional.
O longa trata da questão precária do sistema carcerário dos EUA e de sua ligação direta com a escravidão. Focando em um formato padrão de documentários, e embora simples, o filme mantém um ritmo contínuo e nos expõe dados importantíssimos a respeito das prisões norte-americanas e de sua história. Contando com a entrevista de Angela Davis, A 13ª Emenda foi indicado ao Oscar de Melhor Documentário em Longa-Metragem e venceu o BAFTA 2017 pela mesma categoria. O filme pode ser encontrado na plataforma da Netflix.
4. A CULPA É DO FIDEL! (2006)
Julie Gravas comanda a direção deste sensível drama francês, sobre uma menina de 9 anos, Anna (Nina Kervel-Bey), cujos pais retornam de uma viagem ao Chile completamente diferentes e alheios ao alto padrão de vida da filha em Paris. Após a morte de seu tio comunista e do retorno da mãe e do pai à França, Anna enfrenta o primeiro grande dilema de sua vida, ao tentar compreender o comportamento dos progenitores, assim como as visitas de seus amigos barbudos em um novo – e pequeno – apartamento. Através de muito diálogo, no entanto, a menina cria uma nova perspectiva de vida e alcança o sentimento de empatia por seus familiares.
A Culpa é do Fidel! foi indicado ao prêmio de Melhor Longa-Metragem Estrangeiro no Grande Prêmio Brasileiro do Cinema 2008, e participou da Competição Mundial de Cinema Dramático do Festival de Sundance (EUA), em 2007.
5. JUSTIÇA (2004)
Dirigido por Maria Augusta Ramos, o documentário é formado por registros de audiências de um Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, protagonizadas por promotores, defensores públicos, juízes e réus – em sua maioria, homens negros e pobres. No longa, é mostrada a pressão psicológica imposta aos réus, os abusos verbais sofridos por eles e mais uma série de (in)justiças às quais os mesmos estão submetidos, dentro e fora dos tribunais.
Uma ode aos Direitos Humanos, o filme foi o ganhador do Grande Prêmio do Festival Internacional de Documentários Visões do Real de Nyon (Suíça) em 2004. Justiça está disponível na íntegra no YouTube.
5 filmes dirigidos por mulheres que queremos ver em 2018
O ano está acabando e, com a chegada de 2018, chegam também nossas expectativas quanto aos filmes que irão estrear. Pensando nisso, fizemos uma lista com cinco filmes dirigidos por mulheres que possuem previsão de estreia para o primeiro semestre do ano que vem – e que já chamaram a nossa atenção! Confira:
1. AS BOAS MANEIRAS – Estreia prevista para o primeiro semestre de 2018.
Juliana Rojas (Sinfonia da Necrópole) é das poucas pessoas que fazem cinema de gênero no Brasil. Poderíamos dizer que seus filmes tendem a ser de um terror engajado. Não são obras que dão sustos, mas a narrativa se destaca sendo atravessada por elementos de terror, suspense ou fantasia. Ao lado de Marco Dutra, Juliana já dirigiu o prestigiado Trabalhar Cansa (2011) e, na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo de 2017, a dupla retornou às telas com As Boas Maneiras.
Na trama, Ana (Marjorie Estiano) contrata Clara (Isabél Zuaa), uma enfermeira moradora da periferia de São Paulo, para ser babá de seu filho que ainda não nasceu. À medida em que a gravidez avança, Ana passa a se comportar de maneira estranha.
2. PELA JANELA – Estreia prevista para janeiro de 2018.
Pela Janela é outro dos filmes nacionais que passaram pela 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Em tempos de reforma trabalhista em pauta, a diretora Caroline Leone leva às telas a história de Rosália (Magali Biff), uma operária de 65 anos que dedicou a vida ao trabalho em uma fábrica da periferia de São Paulo. Depois de ser demitida, o irmão tenta distraí-la com uma viagem de carro à Argentina. Lá, ela descobre um mundo para além de sua vida cotidiana.
3. UMA DOBRA NO TEMPO – Estreia prevista para março de 2018.
Só a direção da incrível Ava DuVernay (A 13ª Emenda, disponível na Netflix) já seria motivo suficiente para estarmos ansiosos pelo filme, mas ele também possui uma bela sinopse. Adaptação live-action do livro homônimo, o longa conta a história dos irmãos Meg (Storm Reid) e Charles (Deric McCabe), que decidem reencontrar o pai, um cientista que desapareceu depois de ir trabalhar em um projeto misterioso para o governo.
4. LADY BIRD – Estreia prevista para abril de 2018.
Lady Bird deu o que falar – e entrou para a lista de expectativas – depois de se tornar o filme melhor avaliado do site Rotten Tomatoes, com aprovação de 100%, após 165 críticas. O longa é o segundo filme de Greta Gerwig (Nights and Weekends) na direção e acompanha a vida da jovem Lady Bird (Saoirse Ronan) que, além de mudar de cidade e precisar se adaptar, não sabe bem o que fazer para melhorar a relação com a mãe e que rumo tomar após se formar no colégio.
5. ENCANTADOS – Estreia prevista para o primeiro trimestre de 2018.
Encantados, da renomada cineasta Tizuka Yamasaki, narra a história de dona Zeneida Lima (Carolina Oliveira), que, ainda na adolescência, descobriu-se pajé. O filme, ambientado no Pará, acompanha as transformações e a misticidade da vida da jovem. O longa é baseado no livro O Mundo Místico dos Caruanas da Ilha do Marajó, autobiografia de Zeneida.