A 75ª edição do Globo de Ouro começou a dar o que falar muito antes de sua cerimônia, realizada no último domingo (07). Ao grande público, foi divulgado que as atrizes convidadas estariam envoltas em trajes pretos, como forma de protesto simbólico a assédios sexuais sofridos por elas há décadas – e abafados até pouco tempo atrás. Após inúmeras famosas e anônimas acusarem o (ex-)produtor hollywoodiano Harvey Weinstein de abuso sexual, outros atores, como Kevin Spacey e Dustin Hoffman, foram denunciados por assédios acometidos a colegas de trabalho e demais conhecidos.
Aproveitando o momento oportuno, a atriz Alyssa Milano lançou a hashtag “me too” (“eu também”, em português) no Twitter, incentivando as mulheres assediadas a revelarem seus abusadores. Logo, Hollywood deu luz ao movimento denominado “Time’s Up” (“a hora é agora”, em tradução livre), como forma de dar continuidade ao ativismo em larga escala contra a agressão sexual. E, agora, com a multidão de artistas em luto no Globo de Ouro deste ano, a cerimônia pomposa ganhou um tom peculiar de sobriedade. Confira, dentre esses, 10 motivos para você ficar de olho no que rolou na noite passada:
1. O MONÓLOGO DE ABERTURA
Seguindo à risca a cartilha dos Direitos das Mulheres, “versão 2018”, o apresentador – homem – Seth Meyers iniciou o tradicional monólogo das premiações com um cumprimento extraordinário. “Boa noite às senhoras e aos senhores que sobraram”, provocou ele, em relação às denúncias de assédio expostas. Continuando, Meyers não teve pudores ao comentar que Harvey Weinstein seria o primeiro a receber vaias da plateia, quando seu nome aparecesse na lista dos homenageados falecidos. Então, debochou de Kevin Spacey e comparou o longa indicado “A Forma da Água”, de Guillermo del Toro – em que uma mulher desenvolve uma relação íntima com um monstro aquático –, aos filmes de Woody Allen.
Mas, apesar de toda a zombaria, Meyers deixou clara a sua posição diante de todas as polêmicas, ao frisar a urgência do debate em questão. Hollywood pode continuar um poço de machismo escancarado, mas não há mais como negar que os anos de opressão de gênero e de abuso de poder estão caminhando para um fim lento, mas progressivo. Confira o monólogo completo abaixo, do canal do YouTube da NBC.
2. THE HANDMAID’S TALE E O PRÊMIO DE MELHOR SÉRIE DRAMÁTICA
A série, baseada na obra homônima de Margaret Atwood, faturou mais um prêmio na última noite. No ano passado, The Handmaid’s levou três Emmy, por Melhor Série, Atriz Principal e Atriz Coadjuvante de Drama. Além disso, e sem despertar quaisquer surpresas, a protagonista Elisabeth Moss também venceu na categoria de Atriz em Série Dramática do Globo de Ouro, graças à sua brilhante atuação nos dez episódios da original Hulu. Assim, a série se reafirma uma obra do audiovisual importantíssima para o contexto social dos dias de hoje. Confira o momento abaixo, do canal do YouTube da NBC.
3. O “MAR” DE VESTIDOS E SMOKINGS PRETOS
A cerimônia, apesar de refinada como sempre, mostrou um lado já farto dos moldes de trabalho do cinema norte-americano. Cumprindo o que fora divulgado anteriormente, os belos vestidos e suntuosos smokings não mais formavam o usual arco-íris de cores no tapete vermelho – dessa vez, dando espaço somente ao preto. Remetendo ao luto por todas as vítimas de assédio sofrido dentro da indústria, a quase totalidade dos convidados aderiu à “Time’s Up”. Uma iniciativa simples, mas eficaz ao divulgar a campanha feminista para os quatro cantos do mundo.
4. A PRESENÇA DA EX-PATINADORA TONYA HARDING
Com a temporada de premiações, é bem possível que a ex-patinadora seja vista mais vezes na televisão. Eu, Tonya, protagonizado por Margot Robbie, conta boa parte da história de vida de Tonya Harding, focando principalmente nos anos 90, quando a então jovem de 24 anos viu-se envolvida em um ataque contra a colega de patinação artística Nancy Kerrigan. Depois do ocorrido, e das investigações chegarem até o ex-marido de Harding, ela foi banida da associação de patinadores dos EUA. Assim, Harding ficou conhecida por se tornar a maior vilã dos esportes norte-americanos, perdendo anos de prestígio e uma carreira bem-sucedida para as páginas policiais.
A presença de Tonya no Globo de Ouro significa que, possivelmente, e mesmo que o longa-metragem explore o lado explosivo da ex-patinadora, Hollywood superou o incidente com Kerrigan e promove a redenção de Harding diante do público. Veremos até onde isso vai.
5. O PRÊMIO HONORÁRIO DE OPRAH WINFREY
No ano passado, a vencedora do prêmio Cecil B. DeMille foi Meryl Streep, que proferiu um belo discurso a respeito das problemáticas do governo Trump. Neste ano, o troféu foi pelo conjunto da obra de Oprah Winfrey, a apresentadora mais famosa dos EUA. Já o discurso de Oprah emocionou profundamente a plateia e os espectadores. Sendo a primeira mulher negra a receber esse prêmio, Winfrey relembrou o também primeiro homem negro a ganhar o Oscar de Melhor Ator, Sidney Poitier (Uma Voz nas Sombras), em 1963, e enalteceu o papel da mulher na construção de um futuro melhor. “Então, eu quero que todas as garotas que estão assistindo aqui, agora, saibam que um novo dia está no horizonte. E, quando este novo dia finalmente chegar, será por causa de muitas mulheres magníficas (…), e alguns homens fenomenais, lutando duro para ter certeza de que elas se tornem as líderes que nos levem a um tempo em que ninguém jamais tenha de dizer ‘Eu também’ novamente”, disse a homenageada em relação à hashtag “me too”.
Quanto à “Time’s Up”, Oprah mencionou a campanha que arrecadou milhões de dólares para apoiar vítimas de assédio ou abuso sexual no local de trabalho. Além disso, Winfrey lembrou do falecimento de Recy Taylor, no dia 28 de dezembro do ano passado, aos 97 anos – uma cidadã negra que, em 1944, foi sequestrada e estuprada por seis homens brancos, no Alabama. O crime nunca foi solucionado e os culpados jamais foram condenados. Oprah, então, fez história com um discurso incrível em uma época extremamente necessária. Confira abaixo o discurso completo, do canal do YouTube da NBC.
6. A INDIRETA DE NATALIE PORTMAN E A CATEGORIA DE MELHOR DIRETOR
Em seguida à fala de Oprah, Natalie Portman e Ron Howard subiram ao palco para anunciar o vencedor da categoria de Melhor Diretor. E, adivinha? Todos os indicados eram do sexo masculino. “Aqui estão todos os indicados homens”, lembrou a atriz. Mesmo com a brilhante direção de Greta Gerwig por Lady Bird – A Hora de Voar, a única diretora mulher dentre os dez títulos indicados por longa-metragem, seja de Comédia ou Musical, ou Drama, não foi nomeada por seu trabalho individual. Isso, é claro, não significa que Greta tivesse de ser indicada somente para cumprir com a “cota de uma mulher por categoria”. O ideal seria que Hollywood desse a chance para que mais diretoras exercessem sua função. Mas, isso é assunto para, quem sabe, uma outra lista.
7. O PRÊMIO DE BIG LITTLE LIES PARA MELHOR SÉRIE LIMITADA
No ano passado, a série levou o Emmy pela mesma categoria e, agora, repete o feito no Globo de Ouro. A trama acompanha o cotidiano de três mulheres ricas, mães de família, cheias de segredos e envolvidas em mistérios. Nicole Kidman e Alexander Skarsgård levaram ambos os prêmios de atuação em série limitada, como principal e coadjuvante, respectivamente, por interpretarem um casal preso em um relacionamento abusivo. Já Laura Dern venceu na categoria de Atriz Coadjuvante em Série Limitada. A série da HBO, que conta com a produção executiva de Reese Whiterspoon, retrata temas bastante relevantes, de maneira muito bem feita e responsável. Se você ainda não assistiu, vale super a pena. Confira o momento da premiação abaixo. (Fonte: NBC YouTube)
8. LADY BIRD VENCENDO POR MELHOR FILME DE COMÉDIA
Greta Gerwig não foi sequer indicada como diretora, mas, em compensação, seu filme Lady Bird levou a melhor em Filme de Comédia. O longa acompanha a adolescente Christine “Lady Bird”, uma jovem estudante comum, que se apaixona seguidamente, briga com a mãe e não sabe o que fazer depois que estiver formada. Gerwig é também a roteirista do filme, tendo se inspirado na própria história de vida para dar vida ao enredo de Lady Bird. Confira o momento abaixo. (Fonte: NBC YouTube)
9. GEENA DAVIS E SUSAN SARANDON, DE THELMA & LOUISE, REUNIDAS NO PALCO
E aí, conhece Thelma & Louise? O longa de 1991 foi um marco para o repertório feminista do cinema. Então, nada mais justo do que Geena Davis e Susan Sarandon (as atrizes protagonistas do filme) fazerem uma participação especial neste Globo de Ouro. Reunidas após 27 anos, a dupla subiu ao palco para anunciar a categoria de Melhor Ator de Drama.
10. O PRÊMIO DE TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME PARA MELHOR FILME DE DRAMA
Depois de Frances McDormand ganhar o prêmio de Melhor Atriz de Drama, chegou a vez de Três Anúncios para um Crime – no qual McDormand interpreta uma mãe sofrendo com o assassinato da filha – levar o de Melhor Filme de Drama. Três Anúncios vencer é de importância significativa, visto que o tema do longa cabe muito bem à premiação deste ano. No filme, a filha da personagem de McDormand é estuprada e morta, o que desperta a revolta da mãe, uma mulher que resolve alugar três outdoors de uma estrada para incitar a investigação negligenciada do caso. Seguindo a onda de reivindicações feministas pelo fim de violências sexuais e pelo empoderamento feminino, Três Anúncios para um Crime pode ser tido como o filme favorito ao Oscar. Será? Confira abaixo. (Fonte: NBC YouTube)
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