Crítica: As Telefonistas, o final

ATENÇÃO: Este texto contém spoilers!

Depois de passar meses numa prisão de reeducação para mulheres, sofrendo maus bocados nas mãos de sua maior antagonista, Dona Carmen (Concha Velasco), Lídia Aguilar (Blanca Suárez) finalmente é localizada por Francisco (Yon González) e suas amigas. Assim, com a tentativa de resgate da personagem é dada a largada da temporada final de As Telefonistas, grande sucesso espanhol da Netflix.

‘As Telefonistas’/ Divulgação

Cinco episódios compõem o desfecho da trama iniciada em abril de 2017, ambientados, agora, no fim da Guerra Civil Espanhola, período em que o fascismo Franquista se institucionalizada – embora, na série, o período nunca seja devidamente nomeado, sendo chamado apenas de “regime”.

Como em todas as temporadas anteriores, as crises e conquistas pessoais de Marga (Nadia de Santiago), Lídia, Carlota (Ana Fernández) e Óscar (Ana Polvorosa) são mantidas como motor do melodrama de época. Dessa vez, porém, os episódios tentam retornar às origens cruzando o encerramento dos arcos de cada personagem com uma espécie de missão final e coletiva, cujo objetivo é libertar todas as presas do centro de reeducação comandado por Carmen, vítimas do autoritarismo e da misoginia do regime.

Uma pena que a essa altura não havia mais como o roteiro se redimir de já há algum tempo ter preferido impor sucessivas, trágicas, descabidas, e apressadas reviravoltas às protagonistas, em vez de deixá-las interagir minimamente com diferentes mulheres de sua época. Vale lembrar que na primeira parte desta última temporada, quando tiveram a chance de usar Sofía (Denisse Peña) como pretexto para aludir às militantes feministas que se organizaram e pegaram em armas durante a Guerra Civil, os roteiristas preferiram investir em romances abalados pela severidade dos tempos de guerra.

CORRERIA, MÁRTIRES E DESGRACEIRAS SEM FIM

Não é de hoje que  As Telefonistas vem sofrendo de mirabolâncias excessivas.  Com o tempo, a produção passou a desgastar seu próprio formato forçando passagens temporais atrapalhadas, resoluções excessivamente convenientes e uma condução sofrida do melodrama; sem falar nos problemas de continuidade e montagem. Aos poucos, a série transformou-se simplesmente num encadeamento de situações limite espalhafatosas.

Divulgação

Tudo isso se faz notar com mais intensidade nos episódios derradeiros. Neles, os arcos individuais encontram-se quase completamente decididos. Lídia e Francisco já estão juntos, tal como Marga e Pablo (Nico Romero); Carlota e Óscar repetem os mesmos conflitos à exaustão. Restou, então, apostar num fechamento extremo para impressionar e tentar emocionar o espectador acostumado às saídas sempre inacreditáveis do enredo.

Contrariando sua natureza de novela dos clichês, As Telefonistas abandona o aguardado “final feliz” para abraçar o romantismo amargo do “morrer lutando”. Muitas são as vítimas dos novos episódios; entre elas, todas as protagonistas. Desta vez, a grandiosidade dos conflitos se dá no âmbito da ação, e as telefonistas transformam-se em mártires.

Com muita correria e injustificáveis desgraceiras sem fim, a produção busca, aos 45 do segundo tempo, voltar a interseccionar a história do grupo protagonista com uma trajetória histórica de mulheres. Tudo muito genérico, encaixado com afobação e, claro, trágico; mas há de se reconhecer o esforço das atrizes principais. 

Chega a ser curioso notar que As Telefonistas sequer durou tanto tempo para sofrer tamanho desgaste. Parece ser caso de falta de ambição criativa, num formato mais preocupado em sanar demandas do mercado contemporâneo do que em planejar como manter-se consistente.

Encerra-se medíocre, portanto, a obra que abriu caminhos para o modelo de séries protagonizadas por mulheres na Netflix. Lamentavelmente, o que prometia ser atrevido e arrojado, considerando o pioneirismo das mulheres telefonistas espanholas, acabou aniquilado.

No fim, nem melodrama de qualidade nem insurreição criativa; apenas personagens que, aos trancos e barrancos, conseguiram conquistar muitos espectadores.

Trailer:

(Fonte: Netflix Brasil/ YouTube)

Ficha técnica – 5ª temporada

Criação: Gema R. Neira, Ramón Campos, Teresa Fernández-Valdés

País: Espanha

Ano: 2020

Elenco: Blanca Suárez, Yon González, Nadia de Santiago, Ana Fernández, Ana Polvorosa, Denisse Peña, Martiño Rivas, Nico Romero, Concha Velasco

Gênero: Drama

Distribuição: Netflix

COMENTÁRIOS

3 comentários em “Crítica: As Telefonistas, o final”

  1. O final foi terrível, pior, impossível! As protagonistas lutaram tanto pra ter aquele final horroroso. A Carmem como Diretora de uma penitenciária, pelo amor de Deus. Terrível!

  2. As personagens não tiveram 1 minuto de paz sequer! Faltou romance nesta última temporada! Foi completamente frio, uma tentativa atrás da outra de sobrevivência, morte e luta! A história de amor das protagonistas foram esquecidas e jogadas no lixo… Simplesmente decepcionante este final…

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