Família Submersa: as cargas emocionais do cotidiano de uma mulher

Quando Marcela (Mercedes Morán) perde sua irmã Rina, o processo de luto e o fluxo contínuo da rotina familiar tornam sua vida um tanto quanto sufocante. A protagonista passa a viver no automático, dividindo seu tempo entre embalar as coisas da irmã morta, resolver burocracias e atender às demandas da família.

A vida não para enquanto ela sente dor. A filha precisa dela por estar triste depois de uma briga com o namorado. As coisas dentro de casa quebram. O filho precisa de ajuda para estudar.

‘Família Submersa’ / Divulgação

Na iminência de um transbordamento de sentimentos represados, Marcela consegue um respiro ao conhecer Nacho (Esteban Bigliardi), amigo de uma de suas filhas. Dessa parceria improvável ela tira forças para embarcar numa viagem pessoal de redescobrimento de si mesma.

Assim, ao mesmo tempo em que equilibra todos os pratos do cotidiano e da perda, recebendo parentes e lidando com pequenos conflitos, a personagem procura, em si mesma e numa certa ancestralidade, condições de bancar quem deseja ser.

Em Família Submersa, a diretora e roteirista Maria Alché consegue representar delicada e melancolicamente o que é estar sozinho em meio ao caos e a multidão. Importante destacar também a magistral interpretação de Mercedes Morán, o trabalho de cenografia e o trabalho da diretora de fotografia Hélène Louvart, que consegue criar uma atmosfera simultaneamente fresca e asfixiante.

Mercedes Morán em ‘Família Submersa’ / Divulgação

Os ambientes, um tanto quanto visualmente caóticos e sonoramente poluídos, delineiam a essência intrincada da protagonista: submersa nos transtornos da rotina, exausta da carga emocional de ser uma matriarca e sufocada por não poder gritar sentimentos que vieram à tona com o luto.

Família Submersa é, sobretudo, um filme feminino. Não somente por ser dirigido e protagonizado por mulheres, mas principalmente por Alché ser bem sucedida em dar forma à perspectiva da mulher moderna que é mãe, esposa, trabalhadora e tem tantas preocupações que sequer tem tempo para sentir. O longa é um excelente retrato das inúmeras mulheres que estão sobrecarregadas e esgotadas.

*Este filme foi visto durante a 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

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Ficha técnica

Direção: Maria Alché

Duração: 1h31

País: Argentina, Brasil, Alemanha, Noruega

Ano: 2019

Elenco: Mercedes Morán, Marcelo Subiotto, Esteban Bigliardi

Gênero: Drama

Distribuição: Esfera Cultural


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