6 momentos do Oscar 2018 que fizeram a cerimônia valer muito a pena

No último domingo (04), aconteceu a cerimônia da 90ª edição da maior premiação do cinema mundial. O Oscar 2018 foi novamente apresentado pelo comediante Jimmy Kimmel, e premiou grande parte daqueles que eram seus favoritos. A Forma da Água levou quatro de suas 13 indicações: Melhor Trilha Sonora, Design de Produção e, os principais, Direção (Guillermo del Toro) e Melhor Filme, tornando-se, assim, o grande vencedor da noite.

Em segundo lugar, com o maior número de vitórias, está Dunkirk (tendo vencido três Oscar: Mixagem de Som, Edição de Som e Montagem). Já, empatados no terceiro lugar, e premiados em duas categorias cada, estão Três Anúncios para Um Crime (Atriz, para Frances McDormand, e Ator Coadjuvante, para Sam Rockwell), O Destino de Uma Nação (Ator, para Gary Oldman, e Maquiagem), Viva – A Vida é uma Festa (Animação e Canção Original) e Blade Runner 2049 (Efeitos Visuais e Fotografia).

Grande parte dos vencedores já era prevista por críticos e amantes de cinema. E, alguns momentos especiais, por mais sutis que tenham sido, merecem seu devido reconhecimento. Olha só!

 

1. A VITÓRIA DE UM DIRETOR MEXICANO

Ok. Guillermo del Toro era mesmo o vencedor mais previsível de sua categoria. Mas, o que muitas pessoas sequer teriam lembrado, ao assistir ao Oscar, e se o próprio vencedor não tivesse o mencionado em seu emocionado discurso, é que sua nacionalidade é mexicana. Sabemos que, por mais que o México esteja localizado na América do Norte, devido à sua cultura e língua (o espanhol), o país “pode ser considerado” um integrante latino.

Del Toro já fora indicado, em 2007, por O Labirinto do Fauno, nas categorias de Melhor Filme Estrangeiro e Roteiro Original. Além disso, ele foi o terceiro mexicano a faturar a estatueta de Direção – juntamente com Alfonso Cuarón, por Gravidade (2014), e Alejandro Iñárritu, por Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (2015) e O Regresso (2016). A vitória de del Toro, portanto, indica que um imigrante pode ser tão talentoso e (considerando a política da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas) relevante para a indústria cultural estadunidense quanto um profissional americano – ainda mais em tempos de segregacionismo e xenofobia, com Donald Trump no poder. Viva Guillermo del Toro!

Abaixo, o discurso completo do diretor vitorioso:

(Fonte: ABC Television Network / YouTube)

 

2. UMA MULHER FANTÁSTICA E O OSCAR DE FILME ESTRANGEIRO

Não bastasse a incrível representatividade da chilena Daniela Vega em Uma Mulher Fantástica, o filme de Sebastián Lelio é o primeiro protagonizado por um(a) transexual a levar o Oscar. O longa-metragem foi o único representante latino-americano desta edição; e, o fato de Vega levantar a bandeira da transexualidade, sem pudores, torna a importância do vencedor em questão ainda mais relevante.

Além de Vega, o diretor do documentário Strong Island, Yance Ford, foi o primeiro homem transgênero a ser indicado à premiação em qualquer categoria. Portanto, com certeza, podemos categorizar o Oscar deste ano como histórico. Confira abaixo o anúncio do vencedor de Filme Estrangeiro:

(Fonte: ABC Television Network / YouTube)

 

3. O DISCURSO EM LIBRAS DA ROTEIRISTA E PROTAGONISTA DO CURTA VENCEDOR

The Silent Child, dirigido por Chris Overton, e vencedor da categoria de Melhor Curta-Metragem deste ano, conta a história de uma garota surda-muda de quatro anos, Libby (Maisie Sly), que aprende a linguagem de sinais através da ajuda de uma assistente social.

Durante o discurso de vitória, a roteirista Rachel Shenton falou em inglês e se comunicou através de libras, homenageando e demonstrando empatia para com portadores de deficiência auditiva. “Eu fiz uma promessa para a nossa atriz principal de seis anos de idade, de que eu sinalizaria o discurso”, disse Shenton, em relação à Maisie Sly. Confira o momento completo abaixo:

(Fonte: ABC Television Network / YouTube)

 

4. A APRESENTAÇÃO MUSICAL E A PRESENÇA DE DEZ ATIVISTAS SOCIAIS NO PALCO

O rapper Common e a cantora de soul Andra Day subiram ao palco para interpretar a canção Stand Up For Something (do filme Marshall). Mas, eles não foram sozinhos. Um grupo de dez ativistas, convidado pelos próprios Common e Day, integraram à apresentação, emocionando ainda mais a plateia da cerimônia.

Dentre os dez ativistas, participaram Alice Brown Otter (Standing Rock Youth Council), Bana Alabed (autora e refugiada síria), Bryan Stevenson (Equal Justice Initiative), Cecile Richards (Planned Parenthood Action Fund), Dolores Huerta (Dolores Huerta Foundation, United Farm Workers of America), Janet Mock (#GirlsLikeUs), José Andrés (ThinkFoodGroup), Nicole Hockley (Sandy Hook Promise), Patrisse Cullors (Black Lives Matter) e Tarana Burke (Me Too).

Em entrevista à Variety, Common conta sobre sua decisão de incluir o grupo de ativistas na cerimônia. “Eu pensei, ‘bom, e se nós pegássemos pessoas que realmente fazem esse trabalho? (…) Pessoas que são ativistas de verdade no mundo afora, e que estão na linha de frente. Pessoas cujas vidas, por determinadas circunstâncias, se tornaram principais agentes de mudança.”, diz o rapper. No que a autora da música, Diane Warren, completa, “a música ressoou em tantos grupos diferentes que, literalmente, tê-los representados no palco…foi uma incrível honra.”

Veja o videoclipe de Stand Up For Something abaixo:

(Fonte: Andra Day / YouTube)

 

5. O PRÊMIO DE ROTEIRO ORIGINAL PARA CORRA!, UM THRILLER SOBRE RACISMO

Jordan Peele, o também diretor de Corra! (um dos indicados a Melhor Filme), foi o primeiro roteirista negro a levar a melhor por Roteiro Original. Na categoria de Adaptado, outros homens negros já se saíram vitoriosos – Berry Jenkins e Tarrell Alvin McCraney (Moonlight), Geoffrey Fletcher (Precious – Uma História de Esperança) e John Ridley (12 Anos de Escravidão). Peele foi o quarto negro a ser indicado por roteiro original, depois de Suzanne de Passe (O Acaso de uma Estrela), Spike Lee (Faça a Coisa Certa) e John Singleton (Os Donos da Rua).

Além disso, o vencedor deste ano destaca-se pelo conteúdo de seu roteiro. Corra! conta a história de um casal interracial, que vai passar um tempo na casa dos pais da namorada (uma mulher branca). Ao longo do filme, vamos descobrindo as reais intenções dessa família para com o namorado negro da filha, que, desesperado, passa a viver em um pesadelo. O longa apresenta inúmeros elementos simbólicos que representam a segregação racial norte-americana, além do tratamento preconceituoso dado à comunidade negra, no geral. O filme é carregado de críticas sociais e, simultaneamente, flerta com a comédia. Um ótimo momento para essa premiação!

(Fonte: ABC Television Network / YouTube)

 

6. O DISCURSO DE VITÓRIA DE FRANCES MCDORMAND

Frances McDormand levou a estatueta de Melhor Atriz pela primeira vez em 1997, por Fargo (Irmãos Coen). Agora, a veterana venceu novamente por Três Anúncios para Um Crime (Martin McDonagh), uma trama sobre feminicídio, vingança e relações familiares, dentre outras coisas. Mas, o que marcou mesmo o momento em que McDormand subiu ao palco foi seu discurso.

A certa altura, a atriz fez um apelo à Hollywood. “Se eu puder ter a honra de ter as mulheres indicadas em todas as categorias em pé, para mim, nesta sala, esta noite…os atores…Meryl (Streep), se você fizer isso, todo mundo irá fazer, vamos! Os filmmakers, os produtores, os diretores, os escritores, os cinematógrafos, os compositores, os letristas, os designers…vamos lá! (…) Ok, olhem em volta, senhoras e senhores. Porque todos nós temos histórias para contar e projetos que precisam de financiamento. Não falem sobre isso conosco na festa de hoje à noite. Convidem-nos para seus escritórios, daqui a alguns dias, ou vocês podem vir aos nossos – o que lhes for mais conveniente –, e nós os contaremos tudo sobre eles (projetos). Eu tenho duas palavras para deixá-los hoje, senhoras e senhores: inclusion rider.”, disse Frances à plateia.

O termo inclusion rider faz referência a uma cláusula, na qual os atores podem determinar, em seus contratos, que a equipe e o elenco de filmes possua igualdade entre gêneros e etnias. Um momento inesquecível:

(Fonte: ABC Television Network / YouTube)

 

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