A produção de terror do momento é também uma das melhores estreias da Netflix do ano. A primeira temporada de A Maldição da Residência Hill, série de dez episódios e inspirada no clássico e homônimo romance de Shirley Jackson, está disponível para os assinantes da plataforma de streaming desde a última sexta-feira (12).
Livremente adaptado do livro de Jackson, o programa de TV conta a história de uma família de sete pessoas – os gêmeos caçulas Luke (Julian Hilliard, na fase mais jovem; Oliver Jackson-Cohen, na fase mais velha) e Nell (Violet McGraw/ Victoria Pedretti), a irmã do meio Theodora (Mckenna Grace/ Kate Siegel), a segunda mais velha Shirley (Lulu Wilson/ Elizabeth Reaser), o primogênito Steven (Paxton Singleton/ Michiel Huisman), e os pais Hugh (Henry Thomas/ Timothy Hutton) e Olivia Crain (Carla Gugino) –, tal como os desdobramentos de sua curta morada na mal-assombrada Residência HIll.
Com duas principais linhas temporais, e denominadas na série de “antes” e “agora”, todos os maiores eventos (acontecidos entre ambos os períodos) são contados com detalhes no decorrer dos episódios. E, por falar em tempo, mesmo que a ordem cronológica pouco importe ao roteiro quase irretocável de A Maldição, é muito fácil compreender, ao final de tudo, exatamente como e quando as coisas estranhas aconteceram com a família Crain.
Nell é, aparentemente, a irmã mais afetada pela Residência Hill. Desde os seis anos de idade, a menina é atormentada pela visão de um espírito apelidado por ela de A Moça do Pescoço Torto. Já Luke, o maior parceiro de Nell, sofre com a aparição de um homem muito alto e de chapéu social.
Quanto aos demais Crain, cada um desenvolve um trauma de modo diferente. Theodora descobre uma sensibilidade sobrenatural através do toque de sua pele; Shirley começa a se relacionar de uma maneira muito fria com a ideia da morte; e Steven busca pelos fantasmas nunca antes vistos por ele, através da escrita de romances metade biográficos, metade ficcionais.
Mesmo que não tenhamos todas as explicações sobrenaturais dissecadas pela produção da Netflix, temos o suficiente para acompanhar o raciocínio traumatizado e perturbado de cada um dos irmãos protagonistas. E, em uma obra do gênero de terror – já tão defasado no meio audiovisual –, poucas informações são realmente necessárias para um desenvolvimento fluido da história.
A partir de um ótimo trabalho do terror psicológico, com a dose equilibrada de jump scares (sustos) dentre silêncios perturbadores, a original Netflix mantém um enredo cada vez melhor. E isso é o mais impressionante de uma série do gênero.
Depois de cinco episódios focados, cada um, em um irmão Crain diferente, a segunda metade de A Maldição vai mais fundo quanto à dinâmica do núcleo familiar. Há um episódio, por exemplo, que é feito inteiramente a partir de planos-sequência; todos interligados através da mudança entre os ambientes da história; e focado na família como um todo. A forma como a série explora o terror – principalmente neste episódio – é de um deslumbramento raramente visto em produções similares e recentes.
Além disso, todas as atuações da série merecem elogios. As interpretações do elenco mirim são assustadoramente realistas – com destaque para as veteranas do horror, Lulu Wilson (Annabelle 2: A Criação do Mal) e Mckenna Grace (Amityiville: O Despertar). Enquanto que Timothy Hutton, Kate Siegel e Victoria Pedretti são os verdadeiros destaques da fase mais velha dos personagens.
A Maldição da Residência Hill é, portanto, uma série que merece a devida atenção. O sentimento de tristeza causado no espectador, e aliado ao horror vivido pela família Crain, transforma as reações aos eventos sobrenaturais de seus membros em algo bem próximo do real.
Por mais que a simbologia aplicada na série esteja bastante presente, a verossimilhança narrativa da maior parte de suas cenas – e especialmente a dos diálogos – é o mais interessante de se ver. De qualquer forma, se você tem medo de filmes e/ou séries de terror, enfrentá-lo desta vez vai valer muito a pena. Assista à A Maldição da Residência Hill, e dê uma chance a um original Netflix de altíssima qualidade.
Ficha técnica
Criação: Mike Flanagan
País: EUA
Ano: 2018
Elenco: Michiel Huisman, Carla Gugino, Henry Thomas, Elizabeth Reaser
Gênero: Drama, Terror
Distribuição: Netflix
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