Eu Sou Mais Eu, novo trabalho de Kéfera no cinema, repete fórmula de É Fada!

Em 2016, Kéfera estreava como atriz de cinema com o longa É Fada!, interpretando Geraldine, uma fada atrapalhada designada a ajudar a jovem Luna (Klara Castanho) com seus problemas de autoconfiança e com o bullying que sofria no colégio. Agora, em 2019, algo bastante semelhante acontece no novo trabalho cinematográfico de Kéfera, Eu Sou Mais Eu, filme dirigido por Pedro Amorim.

Dessa vez, Kéfera é Camilla Mendes, uma cantora brasileira pop tão famosa quanto pretensiosa, arrogante e mal resolvida. Certo dia, ao receber a visita inesperada de uma fã esquisita (que lembra a fada do primeiro filme até no figurino), Camilla é transportada de volta ao ano de 2004, época em que ainda estava no colégio, e recebe um aviso da tal fã: a cantora deve viver aquilo tudo de novo para se reencontrar com seu verdadeiro eu e poder retornar para 2018 como uma pessoa melhor.

Assim começa a jornada atrapalhada de Camilla por uma adolescência que lhe causou diversos traumas. Ao acordar sem cabelos lisos, roupas descoladas, riqueza, fama e sendo obrigada a conviver com as garotas populares da escola que tanto lhe fizeram mal, a artista se desespera para resolver a situação o mais rápido possível e evitar reviver todo esse período de vida que considera horrível.

Kéfera como Camilla Mendes / Foto divulgação: Catarina Sousa

A princípio, Camilla acredita que sua missão nessa volta ao passado seja encarar todas essas pessoas e mostrar que ela sempre pôde ser poderosa. Para isso, a protagonista decide que a Camilla adolescente deve cessar o bullying que sofria passando por mudanças estéticas, tornando-se popular de qualquer jeito e se vingando de quem a fez sofrer. Mas será que esse eu ambicioso de Camilla é seu verdadeiro eu?

Falar sobre imposições de padrões estéticos femininos parece ser um assunto pessoalmente importante para Kéfera, algo que agora faz parte do que ela deseja comunicar aos seus milhares de seguidores. Isso porque, recentemente, a atriz passou por um processo de transição capilar, assumiu os cachos, se declarou feminista e passou a travar suas próprias batalhas nesse campo da desconstrução.

Durante a coletiva de imprensa de Eu Sou Mais Eu, Kéfera falou um pouco sobre o bullying que sofreu na juventude por causa de sua aparência física: “Se eu tivesse visto esse filme na época em que eu ainda não tinha feito uma primeira [escova] progressiva, quando eu era a jovem Camilla, pensaria que talvez fosse bom ser eu mesma e tá tudo bem. Quando eu tinha esse cabelo [da personagem] e comparava com os das meninas de cabelo liso, as populares do colégio, eu me achava um monstro. Falava: ‘gente, que ódio, por que eu não nasci ajeitada?’. Era horrível, pesadíssimo, e ainda tinha toda a questão do corpo, porque eu cresci uma adolescente gorda e a minha autoestima foi zero. As crianças da época chutavam minha lancheira do segundo andar pra eu ficar sem comer no recreio”.

Kéfera e João Côrtes / Foto divulgação: Catarina Sousa

Sem dúvidas, as semelhanças entre É Fada! e Eu Sou Mais Eu são várias. Além da temática adolescente sobre bullying praticado contra garotas que não correspondem a determinados padrões, os dois filmes contam com momentos de Kéfera cantando músicas chicletes, “fadas” atrapalhadas que ajudam no processo de redescoberta pessoal das protagonistas e os dois acontecem, principalmente, dentro da dinâmica escolar.

Por outro lado, se comparado com É Fada!, Eu Sou Mais Eu é mais bem executado. Na época de seu lançamento, É Fada! foi considerado mal acabado, com roteiro fraco e montagem descuidada. Além disso, o humor do longa apelava para a personagem escrachada de Kéfera retirando varinhas de suas partes íntimas e gesticulando exageradamente.

Nesse sentido, Eu Sou Mais Eu demonstra ter mais cuidado com o transmitir a mensagem, com a forma e com o humor, sendo eficiente, sobretudo, ao buscar em elementos nostálgicos uma boa fonte de comédia – como quando o filme brinca com a falência das videolocadoras e com o “jogo da cobrinha” dos celulares antigos, ou quando usa a banda Rouge como trilha sonora.

Foto divulgação: Catarina Sousa

Na mesma ocasião da coletiva de imprensa, o diretor Pedro Amorim afirmou que o objetivo de Eu Sou Mais Eu é passar mensagens importantes sobre a problemática do bullying adolescente e dos padrões estéticos de forma popular. De fato, o filme é popular e a mensagem está ali, mas apesar das boas intenções, o tratamento dado ao tema ainda não consegue superar o superficial e torna tanto a narrativa do longa quanto o desenvolvimento dos personagens completamente previsíveis.  

Claro que é essencial e bem-vindo que Kéfera, com a potência midiática que possui, queira comunicar coisas positivas ao seu público. Entretanto, seria perfeitamente possível executar um  projeto popular e menos superficial na mensagem; criativo, “fora da caixinha” e ousado. O problema é que talvez o popular – principalmente o popular adolescente – ainda seja entendido como o básico que se adapta ao que já existe, recorre a um ou outro elemento que lhe garanta algum rastro de personalidade própria – nesse caso, a própria Kéfera e suas músicas – e entrega mais um resultado mediano.

Assista ao trailer:

(Fonte: Imagem Filmes / YouTube)

Ficha técnica

Direção: Pedro Amorim

Duração: 1h38

País: Brasil

Ano: 2019

Elenco: Kéfera Buchmann, João Côrtes, Giovanna Lancellotti

Gênero: Comédia

Distribuição: Imagem Filmes

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