Crítica: Orange Is the New Black (7ª temporada)

Atenção! Este texto contém spoilers das sete temporadas de Orange Is the New Black.

Um dos primeiros sucessos originais da Netflix acaba de chegar ao fim, com a estreia dos últimos episódios de Orange Is the New Black. De repercussão estrondosa, a série baseada no livro de memórias de Piper Kerman, Orange Is the New Black: My Year in a Women’s Prison, teve a sua sétima temporada lançada na plataforma de streaming na última sexta-feira (26).

Do gênero tragicômico, a produção conta a história de Piper Chapman (Taylor Schilling), cujo envolvimento passado com o tráfico de drogas levou-a à sentença de um ano em regime fechado, na prisão de Litchfield (Nova Iorque, EUA). Lá, a protagonista reencontra a ex-namorada Alex Vause (Laura Prepon), uma também ex-traficante internacional. Aos poucos, as demais detentas têm suas próprias tramas abordadas em flashbacks, de modo a compor um enredo representativo e original.

Imagem da última temporada de Orange Is the New Black. Algumas das personagens principais aguardam, algemadas, a chegada de alguém, na área externa de Litchfield.
Imagem: divulgação Netflix

Desenvolvimento

À medida em que a série avança, porém, o seu foco modifica-se e deixa a história de Alex e Piper de lado. Depois da três primeiras temporadas, muito bem produzidas, aliás, a original Netflix investiu no crescimento de uma curva dramática acentuada. Mas, a partir disso, alguns problemas de roteiro surgiram.

Ao invés de aproveitar o desenvolvimento tonal da quarta temporada, na qual algumas das cenas de violência mostraram-se mais chocantes e dramáticas do que antes, a série tem retrocedido em sua própria mutabilidade. Ainda naquela temporada, quando Piper envolve-se com uma gangue de presidiárias racistas, Orange Is the New Black passou a dar bastante atenção a um protagonismo desnecessário (de supremacistas brancas).

Imagem da última temporada de Orange Is the New Black. Piper (Taylor Schilling) anda no meio de uma multidão, já em liberdade, com expressão desconfiada.
Imagem: divulgação Netflix

Daí para a frente, na quinta temporada, a da rebelião na cadeia; na sexta, em que parte das personagens é levada à ala de Segurança Máxima; e, agora, na sétima e última, a trama tem demonstrado uma tendência crescente a perder-se. Assim, já acostumado à ausência da qualidade das três primeiras temporadas, o espectador novamente depara-se com a introdução de novos temas; em meio ao caos e à enorme quantidade de subtramas a serem resolvidas.

O tema da imigração ilegal, por exemplo, mesmo que de importância fundamental nestes tempos, encontra-se defasado por um roteiro sem ambição. Falta de ambição, esta, em contar histórias representativas e verossímeis, ao mesmo tempo. Por mais que, de fato, algumas das presidiárias ainda representem algo de interessante ao público, há tantos artifícios de roteiro superficiais ou desgastados que a produção perde parte de seu propósito inicial. Logo, o conteúdo soa, até o fim, mais próximo ao de uma telenovela melodramática.

Leviandade

Mas, nem todos os momentos da sétima temporada são sentimentais. Alguns deles, inclusive, são bastante frios; talvez, por isso que o tom de Orange Is the New Black pareça confuso, às vezes. Para começar, o flashback de Lorna Morello (Yael Stone), em que um casal acidenta-se por sua culpa, tem um apelo dispensável para a dramaticidade da personagem.

Após ser presa, perder um filho e separar-se do marido, Lorna teria todos os motivos para entrar em um surto psicótico. E, mesmo assim, a presidiária é inserida em um contexto pior do que o esperado; tudo para incentivar o seu sofrimento monumental. Nessa linha, Tiffany Doggett (Taryn Manning), que fora estuprada previamente (em flashbacks e no decorrer da terceira temporada), termina vítima de uma overdose de cocaína. O desfecho de sua trama, que parecia ser positivo, é simplesmente arremessado ao penúltimo episódio da série.

Imagem da última temporada de Orange Is the New Black. Suzanne (Uzo Aduba) abraça a amiga Cindy (Adrienne C. Moore), dentro de uma cela da cadeia.
Imagem: divulgação Netflix

Além disso, um ponto bastante questionável do enredo é quanto a Tasha “Taystee” Jefferson (Danielle Brooks). Taystee, que ganhara um peso dramático desde a trágica morte da amiga Poussey Washington (Samira Wiley), passa esta temporada inteira investindo em ideias suicidas. Desde que abordado de modo responsável, não haveria nenhum problema nisso. No entanto, a produção explicita uma das tentativas de suicídio de Taystee, e trata da questão de maneira leviana; sem propor reflexões sérias.

O vaivém de sua decisão final é cansativo e insensato. A cada episódio, Taystee repensa sobre viver ou morrer; e, sem qualquer tratamento psicológico ou psiquiátrico, a personagem felizmente consegue reverter a situação. Mas, a que custo? Se, em um lapso de consciência, Taystee é capaz de recuperar a própria saúde mental, para que abordar a sua depressão? Talvez, jamais encontre-se uma resposta justificável.

Saldo final

Apesar disso tudo, a cena de encerramento, na qual algumas personagens marcantes de Orange Is the New Black reaparecem, é emocionante e nostálgica. Outros momentos da série, como os em que Suzanne Warren (Uzo Aduba) protagoniza, são divertidos e doces, como de costume. O casal Alex e Piper também, por mais defasado que aparente, não perde a química ou o envolvimento; principalmente por considerar-se que ambas recuperaram o fôlego e amadureceram, desde o início. Há, sim, cenas um tanto repetitivas de desentendimentos entre as duas, mas, no geral, é agradável assistir ao relacionamento lésbico (desta vez).

E, por fim, quanto ao arco da administração de Litchfield, este tem pontos altos e baixos. A nova diretora da prisão, Tamika Ward (Susan Heyward), traz uma luz de esperança às detentas e ao espectador – cansado das injustiças acometidas contra aquelas mulheres. Mesmo que Tamika seja escolhida para o cargo somente por “cumprir com a cota” de mulher negra, suas atitudes mostram que ela é, de fato, qualificada para o trabalho. Mas, tudo o que é bom dura pouco.

Então, novamente a série perde a oportunidade de aprofundar-se em questões sociais. A sétima temporada de Orange Is the New Black resgata questões há muito introduzidas, e de maneira interessante. No entanto, a produção simultaneamente continua a distanciar-se de sua identidade original. De qualquer forma, a original Netflix tem momentos tão icônicos que assisti-la é uma tarefa válida.

Trailer oficial legendado:

Netflix Brasil / YouTube

Ficha técnica

Criação: Jenji Kohan

País: EUA

Ano: 2019

Elenco: Taylor Schilling, Laura Prepon, Uzo Aduba, Danielle Brooks

Gênero: Drama, Comédia

Distribuição: Netflix

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