Os melhores sci-fi dos últimos 25 anos (pt. 1)

Nos últimos 25 anos, muitos filmes em live-action de ficção científica (“science fiction” ou sci-fi, em tradução para o inglês) estrearam no cinema e/ou na televisão. No entanto, poucos deles agradaram o público e a crítica especializada, simultaneamente.

Inclusive, há certa confusão quanto aos títulos que pertencem, de fato, ao gênero cinematográfico; uma vez que alguns longas-metragens, que têm ambientação similar a de demais produções sci-fi, são representantes de outros gêneros de filme. Um exemplo clássico disso são os longas da série Star Wars. Mesmo que estes relacionem-se a universos futuristas e tecnológicos, seus enredos são tão fantasiosos que eles acabam por distanciarem-se de hipóteses científicas reais.

Outros exemplos de títulos com ambientação similar, e das últimas décadas, são Mad Max: Estrada da Fúria (2015), Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (2004) e Gravidade (2013). Todos estes apresentam algum cenário ou artifício de roteiro que associe-os ao sci-fi. Ainda assim, seus gêneros principais são, respectivamente, Ação, Romance e Drama. Então, tais filmes não entrarão na lista deste texto.

Veja, abaixo, cinco live-actions de uma série (em duas partes)* sobre os melhores sci-fi dos últimos 25 anos:

Matrix (1999)

O sucesso estrondoso das irmãs Lana e Lilly Wachowski (Sense8) tornou-se uma grande referência para a cultura geek. Ao lado de hipóteses científicas, Matrix aborda questões filosóficas igualmente importantes, referentes à suposta utopia da digitalização; enquanto que, na verdade, o mundo fora de projeções virtuais continua a ser uma cruel realidade.

Na trama, Neo (Keanu Reeves) é o programador de uma companhia de software, e hacker nas horas vagas. Após descobrir a existência da denominada “Matrix”, o protagonista é perseguido e, então, contatado pela – também – hacker Trinity (Carrie-Anne Moss).

Cartaz do filme/ Divulgação Warner Bros.

Em seguida, a dupla encontra com Morpheus (Laurence Fishburn); por quem Neo é introduzido ao poder da escolha. Se tomar a pílula azul, o protagonista continuará a viver normalmente, mas, se optar pela pílula vermelha, ele descobrirá a veracidade de seu mundo. Neo decide pela vermelha e desperta em uma realidade completamente distinta da que conhecia.

Logo, os famosos óculos e roupas pretas do longa-metragem não são o que há de mais memorável na produção. E, mesmo assim, as cenas de ação do filme são um dos pilares da obra.

Assistir a Matrix é uma experiência incitadora, justamente pelo sci-fi tratar de temas filosóficos – como a realidade simulada – de modo dinâmico e empolgante. Com certeza, uma das maiores ficções científicas de todos os tempos; que levou quatro prêmios Oscar em 2000: Montagem, Efeitos Visuais, Mixagem e Edição de Som.

Blade Runner 2049 (2017)

De Denis Villeneuve (Sicario: Terra de Ninguém), o revival de Blade Runner, O Caçador de Androides (1982) passa-se trinta anos após os eventos do primeiro filme. Adaptado do romance Androides sonham com ovelhas elétricas?, de Philip K. Dick, o universo cinematográfico de Blade Runner é um clássico cult que inspira obras sci-fi há gerações.

Na direção do longa de 1982, Ridley Scott (Alien, O Oitavo Passageiro) retorna ao mais recente como produtor executivo. Desta vez, o replicante – ser humano fabricado por bioengenharia – K (Ryan Gosling) tem de cumprir uma missão para a polícia de Los Angeles (Califórnia, EUA). Na função de blade runner, K descobre uma caixa com os restos mortais de outra replicante que ficara grávida.

Por considerar-se impossível a reprodução espontânea desses seres, tanto K quanto sua supervisora, a Tenente Joshi (Robin Wright), empenham-se para ocultar a nova descoberta. No entanto, o blade runner depara-se com a possibilidade de fatos encobertos de seu próprio passado.

Imagem: divulgação

Essencial e extremamente futurista, os cenários de 2049 seguem um visual monocromático. Essa unidade fotográfica só não justifica-se quando K ou os demais personagens andam por ruas superlotadas; ou quando atravessam a fluorescência dos anúncios comerciais. Pela predominância da publicidade paisagista, sem um verde sequer, é fácil concluir o quão distópica a realidade de Blade Runner continua a ser.

Como causa disso, o roteiro detalhista cumpre muito bem com o seu papel de impactar. Harrison Ford retorna como o icônico Rick Deckard, enquanto que Jared Leto dá vida ao visionário Niander Wallace (dono da Wallace Corporation). Assim, as reviravoltas e os entrelaces da história de 2049 transformam o filme em uma continuação digníssima do de 1982. Vencedor do Oscar de 2018 de Melhor Fotografia e Efeitos Visuais.

Ex-Machina: Instinto Artificial (2014)

Esta ficção, que levou o Oscar de Melhores Efeitos Visuais em 2016, fora escrita e dirigida por Alex Garland (Aniquilação). Em Ex-Machina, Alicia Vikander vive a robô humanoide Ava – dotada de inteligência artificial. Para descobrir se a máquina possui, na verdade, uma consciência, o criador Nathan Bateman (Oscar Isaac) promove uma seleção de especialistas; através da qual o programador Caleb Smith (Domhnall Gleeson) é o escolhido para testar Ava.

A partir disso, o longa passa-se inteiramente na afastada casa de Nathan, nas montanhas; onde uma série de eventos caóticos determina o resto das vidas dos – três – personagens. Intrigante, Ex-Machina mostra que nem o mais controlador dos ambientes garante a previsibilidade de seus componentes. Logo, o filme desconstrói a ideia deturpada de que, com a ciência, pode-se dominar o próprio material de estudo.

Mesmo que simples, a obra de Garland é regada de simbolismos e reflexões acerca do futuro tecnológico. Isso, somado aos limites da ética científica, propõe uma discussão aprofundada – e boas doses de suspense no sci-fi.

Imagem: divulgação

Contato (1997)

Contato é inspirado no livro homônimo do popular cientista Carl Sagan, e dirigido por Robert Zemeckis (De Volta Para o Futuro). No enredo, a cientista Eleanor Arroway (Jodie Foster) é uma radioastrônoma que, depois de muitos anos de busca, finalmente encontra um indício de vida extraterrestre. No sinal transmitido, há um conjunto de instruções para a construção de uma máquina de viagem espacial.

Por conseguinte, a protagonista tem de enfrentar embates públicos e particulares com religiosos; além de esforçar-se para ser a escolhida para realizar a viagem. Contato trata de temas como o “tempo e espaço”, a partir da hipótese argumentativa de um cientista mundialmente prestigiado. Apenas isso seria o suficiente para validar a produção de Zemeckis; mas, a discussão urgente sobre aquilo que determina uma teoria científica é, também, fascinante.

Desta lista, Contato é o sci-fi mais direto ao citar qualquer crença religiosa. Ainda assim, o modo respeitoso, com o qual lida com a religião, é de enorme importância para que o espectador abra a cabeça a demais possibilidades.

Imagem: divulgação

A Chegada (2016)

Indicado ao Oscar de Melhor Filme em 2017, A Chegada também foi dirigido pelo canadense Villeneuve. Baseado no conto História da Sua Vida – do livro de ficção do escritor Ted Chiang –, o longa traz Amy Adams na pele da linguista Louise Banks; que é convidada pelo Coronel Weber (Forest Whitaker) a comunicar-se com os primeiros alienígenas em solo terrestre da História.

O suspense de A Chegada é um de seus – maiores – primores. O desenvolvimento da relação de Louise com os denominados heptapods (termo dado às criaturas) é o que sustenta toda a trama; ao melhor formato de um thriller psicológico. Lentamente, a linguista passa a compreender e a comunicar-se com os extraterrestres, tal como a estabelecer um sentimento mútuo de confiança; o que traz maior sentido às suas motivações.

Imagem: divulgação

Em outros onze pontos ao redor do mundo, diferentes naves de heptapods buscam por um comunicador capaz de descobrir o intuito de sua misteriosa vinda à Terra. Mas, exatamente pelas delimitações geográficas e políticas de cada ponto de pouso das naves, os interesses entre as nações terrestres entram em conflito.

Mesmo que a abrangência política da trama fique para o segundo plano, o foco de A Chegada, que é a vida de Louise, destaca-se bastante. Sensível, o longa de Villeneuve explora hipóteses científicas, e a relação entre elas e a ética comportamental dos seres humanos.

Talvez, por isso, que esta ficção científica seja tão única. Assim, ela abre espaço para uma abordagem intimista muito inovadora às produções do gênero. Além do que, a estética fria, hiperrealista e clean ajuda enormemente a contextualizar os sentimentos propostos pelo filme; com o acréscimo essencial da fascinante trilha sonora instrumental de Jóhann Jóhannsson.

*Confira aqui a segunda parte desta matéria, publicada em 18/07/19.

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