O grande destaque do Festival de Cannes deste ano, o sul-coreano Parasita, estreia nesta quinta-feira (07) nos cinemas brasileiros. Vencedor da Palma de Ouro (prêmio de máxima honraria do festival francês), o filme de Joon-ho Bong (Okja) fora exibido em mostras de cinema ao redor do mundo e prova-se um forte concorrente ao Oscar 2020.
Na trama, o casal Ki-taek (Kang-Ho Song) e Chung-Sook (Chang Hyae Jin), assim como seus dois filhos adultos Ki-Woo (Woo-sik Choi) e Ki-Jung (Park So-Dam), vivem de pequenos golpes. Quando uma ingênua família rica busca por um professor particular de inglês para a primogênita, Ki-Woo vê uma oportunidade de ganhar muito dinheiro e de infiltrar o resto de seu clã familiar no mesmo ambiente doméstico.
Por conseguinte, e depois que os outros três membros são contratados – todos sob currículos falsos, diga-se de passagem –, estranhos eventos começam a acontecer dentro da mansão; ao ponto de modificar drasticamente a vida de cada uma daquelas figuras. Para tanto, o olhar irrestrito de Bong fora fundamental durante a produção asiática, que caracteriza-se como, no mínimo, inédita.
A direção
Após a repercussão internacional de O Hospedeiro (2006), filme de Bong exibido no Festival de Cannes daquele mesmo ano, o cineasta ganhara alguma notoriedade dentro do requisitado meio artístico. Em seguida, vieram seus longas-metragens Tokyo! (2008), Mother – A Busca pela Verdade (2009), Expresso do Amanhã (2013) e Okja (2017); este último, uma produção original da Netflix.
Agora, em Parasita, Bong extrapola a versatilidade de sua técnica cinematográfica, e dá indícios de uma próspera e crescente carreira como diretor. Na obra, a forma como ele conduz o elenco à comédia mais honesta e justificável é tão bem-sucedida quanto o modo como constrói o drama e o suspense do filme. Ainda que a tragédia sobressaia-se aos outros tantos gêneros de Parasita, a produção destaca-se, principalmente, pela surpreendente curva dramática, que cativa qualquer espectador desavisado.
Tome-se nota: Parasita não é um longa que flerta com vários gêneros simultaneamente; mas é, na verdade, uma obra delineada a partir da evolução de cada tom acrescentado, aos poucos, à sua narrativa. Tal como a vida real – que, por vezes, pode ser cômica e, como que em uma macabra reviravolta, torna-se trágica –, o filme de Bong acompanha a trama de duas famílias deste século de maneira espontânea.
Há, é claro, artifícios de roteiro propositalmente absurdos na produção – mas, nada que atrapalhe a imersão em sua história. Ao mesmo tempo, a visível sensibilidade por de trás das câmeras é o que garante a transmissão de tanta humanidade ao público; e também o que nos leva a discutir sobre o cuidadoso roteiro do longa-metragem.
Desaceleração rítmica
Talvez, o aspecto mais fascinante da obra seja, de fato, o texto de Bong e de Han Jin Won. Ao início, apreende-se o conteúdo daquilo que é assistido como uma Comédia sul-coreana. No entanto, à medida em que a família de protagonistas vê-se indissociada da situação que ela própria planejara, uma série de picaretagens revela-se um pandemônio generalizado. Assim, Parasita adquire o caráter de Suspense, filme Policial, Gore e, por fim, de Drama.
Apesar de tanta originalidade (ou, mesmo, por causa disso), a produção não é fácil de ser digerida. Desse modo, um público habituado a formatos convencionais de filmes – ainda que com reviravoltas em suas tramas –, poderá estranhar a ousadia de Bong.
Algo que auxilia no envolvimento e na compreensão das mudanças tonais do longa é a intensa trilha sonora do mesmo. Leves em alguns momentos e chocantes em outros, as composições instrumentais situam o espectador em meio à desaceleração rítmica de Parasita. Desespero, frustração e tristeza são sentimentos compartilhados tanto pelos complexos personagens quanto pelo público que os acompanha intrigado. Por causa disso tudo, a grandiosidade da obra põe-na como uma das apostas ao Oscar 2020 de Melhor Filme.
Parasita é, então, espantoso – pela qualidade e pela potência que abarca. Não há uma cena sequer que não explore o carisma narrativo daquela história. Independentemente das distintas reações dos espectadores, é impossível passar ileso às atitudes questionáveis da família de Ki-Woo. Ou seja, assim como os extremos do próprio filme, o impacto do lado de cá das telas será, sempre, igualmente poderoso.
*Este texto faz parte da cobertura da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Leia também: “Assunto de Família, vencedor da Palma de Ouro, expõe a dualidade do ser humano“.
Ficha Técnica:
Direção: Joon-ho Bong
Duração: 2h12
País: Coreia do Sul
Ano: 2019
Elenco: Kang-Ho Song, Woo-sik Choi, Park So-Dam, Chang Hyae Jin
Gênero: Suspense, Drama
Distribuição: Pandora Filmes
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