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Chico, uma distopia realista?
O ano é 2029. Durante os 13 anos seguintes ao golpe que provocou o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, o racismo foi institucionalizado no Brasil. Pressupõe-se que, mais cedo ou mais tarde, crianças pobres, negras e marginalizadas virão a cometer algum crime. Por isso, assim que nascem elas são marcadas com tornozeleiras de rastreamento que as acompanharão por toda a vida. Chico é uma dessas crianças. Negro, pobre, morador de favela.
Tentei: o ciclo da violência doméstica em 14 minutos
Atenção: este texto contém spoilers. Antes de seguir com a leitura, assista ao curta aqui.
Aos 34 anos e tomada pela coragem que reuniu ao longo de muito tempo, Glória (Patricia Saravy) decide, numa manhã que tinha tudo para ser como qualquer outra, se livrar de um ciclo que a oprime e fragiliza há mais de uma década e recuperar o seu direito de ser, de existir com dignidade.
Essa seria a sinopse otimista do curta =&0=&, da diretora Laís Melo, indicado à categoria de Melhor Curta-metragem de Ficção do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2018. A obra, no entanto, segue o caminho tortuoso da realidade cotidiana de milhões de mulheres brasileiras: a realidade das dificuldades de denunciar violência doméstica no país.
Antes de mais nada, é preciso entender o que é violência doméstica. Conforme definido pela Lei Maria da Penha, “violência doméstica e familiar contra a mulher é qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial’’.
O Dossiê Violência Contra as Mulheres, da Agência Patrícia Galvão, conta com vários dados sobre violência doméstica no Brasil. Por exemplo, estima-se que cinco mulheres são espancadas a cada 2 minutos; o parceiro (marido, namorado ou ex) é o responsável por mais de 80% dos casos reportados, segundo a pesquisa Mulheres Brasileiras nos Espaços Público e Privado (FPA/Sesc, 2010)
Ainda de acordo com o documento: “Apesar dos dados alarmantes, muitas vezes, essa gravidade não é devidamente reconhecida, graças a mecanismos históricos e culturais que geram e mantêm desigualdades entre homens e mulheres e alimentam um pacto de silêncio e conivência com estes crimes.
Na pesquisa Tolerância social à violência contra as mulheres (Ipea, 2014), 63% dos entrevistados concordam, total ou parcialmente, que “casos de violência dentro de casa devem ser discutidos somente entre os membros da família”. E 89% concordam que “a roupa suja deve ser lavada em casa”, enquanto que 82% consideram que “em briga de marido e mulher não se mete a colher”.”
Então, sob o recorte certeiro de Laís Melo, também roteirista, Tentei acompanha a árdua trajetória da mulher que quer denunciar o marido. O filme vai desde o momento em que ela acorda, decidida a romper com sua atual situação, até o momento em que, desesperançosa e desmotivada por estruturas despreparadas, retorna à sua casa para, sem opção, reiniciar o ciclo.
A caminhada de Glória é solitária. Fica evidente que não há ninguém próximo para apoiá-la. Depois, quando chega à delegacia, a personagem é tratada como um número. Como somente mais uma ficha do escrivão homem. Para ela, entretanto, esse poderia ser o dia mais importante de sua vida, mas acaba frustrado pelos mecanismos institucionalizados que mais funcionam como outro tipo de violência do que como ajuda.
Laís Melo usa da ficção para representar todas as sutis (ou nada sutis) violências que convivem com mulheres vítimas de agressores protegidos pela impunidade. Mulheres que saem de casa dispostas a mudar o rumo de suas vidas, mas que, ao se depararem com delegacias despreparadas, funcionários nada empáticos e toda uma cultura misógina que diz que a culpa é sempre feminina, voltam para casa e esperam resignadas pela próxima agressão.
Tentei é um filme curto e brutal, mas também é, acima de tudo, uma denúncia indispensável que só faz somar como obra nacional disposta a tratar de violência de gênero – principalmente por ter uma equipe formada por mulheres e por tratar da questão exclusivamente sob a ótica da protagonista mulher.
Como ponto alto, a atuação contida e silenciosa de Patrícia Saravy representa a aflição de mulheres que são mais do que estatísticas, mesmo que a engrenagem que segue acobertando machismo e violência tente ignorá-las. Afinal, Glória estava viva para tentar, mas o que acontece quando uma denúncia mal sucedida termina em feminicídio? Quantas vidas de mulheres o Brasil negligencia todos os dias?
*Leia o Dossiê Violência Contra as Mulheres completo neste link.
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De Tanto Olhar o Céu Gastei Meus Olhos
Indicado na categoria Melhor Curta de Ficção do Grande Prêmio de Cinema Brasileiro 2018, =&0=& trata da ausência paterna na vida dos irmãos Luana (Maria Eny) e Wagner (Edilson Silva).
Após anos de abandono, os dois, agora adultos, recebem uma carta do pai que se diz interessado em uma reaproximação. Wagner acredita que o pai possa ter mudado. Luana se recusa a restabelecer qualquer tipo de contato.
O curta dialoga com a lamentável realidade de milhares de crianças brasileiras que crescem sem a presença do pai, dependendo exclusivamente do apoio materno. No final de junho, ainda em clima de Copa do Mundo, o El País Brasil publicou uma reportagem que chamava a atenção para o fato de que seis dos 11 titulares da seleção cresceram sem o suporte do pai biológico.
De acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgados pela matéria, 40% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres, sendo que aproximadamente 12 milhões delas não têm cônjuges para ajudar na criação dos filhos.
Em
De Tanto Olhar o Céu Gastei Meus Olhos