Drama que faturou o prêmio de Melhor Filme do Festival do Rio deste ano, Tinta Bruta, que estreia nesta quinta (06) nos cinemas, é muito mais do que um filme LGBT. Para além da sexualidade de seu protagonista Pedro (Shico Menegat), o longa-metragem de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon delineia os percalços de uma história simples, mas grandiosa.
Sob as telas da ficção, Porto Alegre parece uma cidade fantasma. Enquanto vive praticamente entre quatro paredes, o jovem Pedro trabalha como um dançarino anônimo na internet. Realizando lives todas as noites, e sob o codinome de “GarotoNeon”, Pedro cobre seu corpo nu somente com tintas fluorescentes e movimenta-se livremente, para outros usuários ao redor do mundo. Assim, o jovem “tira uma grana”; ou melhor, ganha a vida.
Sem perspectivas de futuro firmadas – ou explicitadas pela produção –, o protagonista entra em conflito consigo, principalmente, quando a irmã mais velha parte para a Bahia. Enquanto é deixado por sua amada irmã – ao menos, como enxerga Pedro –, outra pessoa chega em sua vida: alguém que, aparentemente, roubou a ideia do GarotoNeon e também dança sujo de tinta na internet.
Mesmo que limitado e de estrutura muito simples, o enredo de Tinta Bruta entrega um filme redondo (com total coerência) e evidentemente autoral. A história de Pedro pode ser, de fato, universal. Mas, o modo como as coisas acontecem na vida do jovem, tal como os diálogos dos personagens – aparentemente banais, mas profundos, na realidade – deixam claro o ineditismo desse texto no cinema brasileiro contemporâneo.
O roteiro de Tinta Bruta é surpreendente. Quando você pressupõe que a narrativa inclinará para um gênero específico, ela tende a uma curva dramática, em geral, sutil, e que traz novas possibilidades a Pedro. Além do que, a bela atuação de Menegat converge para o momento delicado pelo qual seu personagem passa. Como se não bastasse a falta de dinheiro e a ida definitiva de sua irmã para outro estado, o protagonista tem de lidar com a iminência de um julgamento por agressão física.
Progressivamente, percebemos as qualidades e os defeitos de Pedro – um garoto que, mesmo branco e morador do centro da cidade, vive às margens de uma sociedade extremamente homofóbica e elitista. Tinta Bruta não é o tipo de filme cujo potencial é pouco explorado, e que acabar por frustrar pela suposta simplicidade de seu enredo. Muito pelo contrário, no entanto, temos, no longa-metragem, elementos sempre pertinentes às cenas e um desenvolvimento dramático crescente.
Após assistirmos à sua última cena, a sensação de reconhecimento da qualidade da obra é inevitável. Quando até mesmo os segundos finais de um filme trazem empolgação ao espectador, é sinal de que a produção cumpriu muito bem com seu papel principal: a de provocar sentimentos positivos, e a longo prazo, em quem a assistiu.
Trailer Oficial:
(Fonte: YouTube/ Vitrine Filmes)
Ficha técnica
Direção: Filipe Matzembacher, Marcio Reolon
País: Brasil
Ano: 2018
Elenco:: Shico Menegat, Bruno Fernandes (II), Guega Pacheco
Gênero: Drama
Distribuição: Vitrine Filmes
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