Amor de Mãe marca ponto de mudança às novelas

Com a premissa “tudo é incerto, menos o amor de mãe”, divulgada desde as suas primeiras chamadas na televisão, Amor de Mãe é a novela estreante do horário nobre da Rede Globo. Exibida a partir da última segunda-feira (25), a produção fora criada e (é continuamente) escrita por Manuela Dias (Ligações Perigosas e Justiça), além de contar com a direção artística de José Luiz Villamarim (diretor geral da popularíssima Avenida Brasil).

Assim como Avenida (2012), cuja produção marcou um maior dinamismo narrativo e a melhoria técnica das novelas brasileiras, a nova das 21h é a primeira produção a ser gravada no recém-inaugurado complexo de estúdios da Globo, o MG4; uma área de 26 mil metros quadrados, com equipamentos de última geração e o melhor do que há no audiovisual.

Mas, diferentemente do folhetim de 2012, Amor de Mãe promete a exploração da trama a partir de um grande realismo; de maneira que a história não deixa espaço para maniqueísmos simplistas, como vilões e falta de coerência ou profundidade nos personagens.

Imagem: divulgação

As três mães da representatividade

Segundo o primeiro capítulo, de roteiro inédito – em todos os sentidos da palavra – e cuidadosamente elaborado, a riqueza das figuras brasileiras apresentadas demonstra o quão bem representadas elas serão. O maior exemplo disso está em Lurdes (Regina Casé), mãe solo de quatro filhos, babá e empregada doméstica, que migrou para o Rio de Janeiro (RJ) há mais de vinte anos e em busca de outro filho desaparecido. Tal como uma mãe de origem humilde, a protagonista é uma mulher sensível, de grande coração e de bravura incontestável. A cada cena, a personagem ultracarismática promete ser o grande destaque da novela.

No entanto, Lurdes divide o protagonismo com outras duas figuras bastante fortes. Thelma (Adriana Esteves) é uma mãe superprotetora, de classe média e que administra um restaurante tradicional de comida portuguesa. No capítulo de estreia, após descobrir um aneurisma inoperável no cérebro, a maior preocupação de Thelma dirige-se ao futuro do único filho, Danilo (Chay Suede), por quem arriscou-se para salvar de um incêndio, quando ainda pequeno.

Já Vitória (Taís Araújo) é uma advogada bem-sucedida e rica, que ganha a vida defendendo políticos corruptos e demais personalidades poderosas – e de caráter duvidoso. Mas, ao contrário de Lurdes e Thelma, Vitória ainda não tem filhos; o que ela vê como a próxima grande conquista de sua vida. Para tanto, a personagem terá de lidar com o difícil processo de adoção de uma criança e o desgosto do marido Paulo (Fabrício Boliveira).

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Qualidade técnica e artística

Ainda no primeiro capítulo, todos esses pontos são introduzidos de maneira dinâmica e muito clara. Dentre um monólogo de Lurdes e um close no rosto de Vitória, um flashback necessário da vida da primeira. Dentre outro flashback, dessa vez o de Vitória, e o de Thelma, esta é finalmente apresentada ao telespectador; no momento em que é salva de um atropelamento pela personagem de Casé.

Ademais desses detalhes que, mesmo que simples dentro da História do audiovisual, são inovadores em uma novela, a direção de arte de Amor de Mãe é um primor à parte. O principal cenário escolhido é o fictício Bairro do Passeio, inspirado em São Cristovão (bairro da Zona Norte do Rio). Para a produção, até mesmo um viaduto fora construído. Logo, a grandiosidade do estúdio é exposta a partir do plano-sequência que acompanha o filho mais velho de Lurdes, Magno (Juliano Cazarré).

É nesse momento que ele escuta os gritos de uma mulher sendo abusada sexualmente e, após uma briga física com o agressor, acaba por matá-lo acidentalmente. Assim, inicia-se o que será um dos principais conflitos da novela.

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Drama

Tendo estreado com 35,4 pontos de média na Grande São Paulo, mais que as estreias de sucessos como O Outro Lado do Paraíso (35,1) e A Força do Querer (33,1), a sensibilidade de Amor de Mãe parece ter atraído o público. O que é muito bom, porque, mesmo que carregado de drama e situações complexas, o telespectador interessou-se pelo conteúdo sofisticado.

Dessa forma, a sucessora de A Dona do Pedaço tende a romper completamente com o material mastigado e questionável que domina o horário das 21h nos últimos anos. Esperemos pela continuidade do ineditismo e da coerência do trabalho de Dias, que se revela um nome promissor na lista de autores(as) da Globo.

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Leia também: A Dona do Pedaço e as gafes de Walcyr Carrasco.

Amor de Mãe

Onde? Rede Globo

Quando? De segunda-feira a sábado, às 21h15

Criação: Manuela Dias

Elenco: Regina Casé, Adriana Esteves, Taís Araújo, Murilo Benício

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