Eleições, novo documentário de Alice Riff, chega aos cinemas para provar que política tem tudo a ver com educação

Indo na contramão de ideologias que apoiam projetos como o Escola Sem Partido e asseguram que é possível – ou aceitável – desvencilhar educação de qualidade das práticas democráticas de cidadania, Alice Riff (Meu Corpo é Político) lançou seu novo documentário, Eleições, na última quinta-feira (14). No filme, a diretora acompanha o processo de eleição de uma nova gestão do Grêmio Estudantil da Escola Estadual Doutor Alarico da Silveira.

O processo eleitoral da escola pública, localizada no centro de São Paulo, começa com orientações do professor de sociologia sobre a importância dos debates democráticos para o bom funcionamento do ambiente escolar. Depois disso, as chapas são formadas, as campanhas se iniciam, os debates acontecem e o resultado da votação revela a chapa vencedora.

‘Eleições’/ Divulgação

No total, quatro chapas concorrem: a Rosa, formada só por meninas feministas; a ID, com viés cristão; a Mais Diversidade, uma chapa que procurou unir diversas minorias sociais da escola (negros, lgbts, mulheres); e a PAS, constituída pela “turma do fundão”. Além das chapas, também fazem parte direta do processo duas garotas encarregadas da cobertura midiática do evento – cobertura que, em certa medida, serve de alívio cômico e de apontamento importante sobre como a juventude enxerga o papel da mídia.

As eleições do grêmio acontecem mais ou menos no mesmo período das eleições presidenciais do Brasil. Em nenhum momento a situação da política nacional é citada diretamente, mas ela reverbera no comportamento de jovens de 15 anos que inevitavelmente são afetados pelos meios, vivências e visões de mundo que os rodeiam.

Imagem: divulgação

Com direito a debates acalorados, fake news, problemas de campanha, votos nulos, crises de representatividade e questionamentos sobre governabilidade, a eleição estudantil reproduz muito do que vivenciamos na eleição presidencial de 2018. A diretora, porém, conduz a narrativa com leveza, mostrando que política é algo inerente ao existir humano e que, se feita a partir de um ambiente saudável de diálogo, leva à construção – ao contrário da destruição avassaladora que sofremos todos os dias, em diversas frentes, desde o início do mandato do novo Presidente da República.

A partir do microcosmo escolar, portanto, Riff retrata o contexto macro brasileiro, traçando um paralelo entre os dois eventos – sem que nenhuma relação óbvia precise ser feita para que a leitura seja clara.

Os alunos são inseridos ativamente na construção do filme e representam uma juventude que carrega suas próprias pautas, dilemas, contextos e questionamentos. Uma juventude plural, que tanto pode ser atacada por apontar para futuros não condizentes com os interesses de forças retrógradas e conservadoras quanto pode reproduzir mentalidades e atitudes reacionárias.

‘Eleições’/ Divulgação

Por certo, Eleições consegue ir à raiz das questões brasileiras contemporâneas; comprovando que as escolas são o epicentro das agitações sociais do futuro. Por isso, precisamente, tornam-se também espaço de disputa, território a ser colonizado por quem odeia democracia. Visto como uma ameaça em potencial, o sistema educacional, mesmo com suas contradições e deficiências, é então frequentemente atacado e minado.

Eleições já pode facilmente ser considerado como um dos melhores documentários brasileiros do ano. Certeiro, atual, dinâmico, extrovertido, engajado e dirigido e protagonizado por mulheres, o longa conversa diretamente com as possibilidades do hoje e do amanhã – e a chapa vencedora da eleição do Grêmio Estudantil da Escola Estadual Doutor Alarico da Silveira também diz muito sobre o que está por vir.

Assista ao trailer:

(Fonte: Olhar Distribuição/ YouTube)

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Ficha técnica

Direção: Alice Riff

Duração: 1h40

País: Brasil

Ano: 2019

Gênero: Documentário

Distribuição: Olhar Distribuição


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