Ema, uma jovem contemporânea em combustão

Um farol em chamas abre o filme Ema, novo trabalho do chileno Pablo Larraín (No e Neruda). Depois disso, tem início uma trama hipnótica e envolvente sobre relações completamente disfuncionais.

‘Ema’/ Divulgação

Ema (Mariana Di Girolamo) é professora de dança para crianças e bailarina de reggaeton. Gastón (Gael García Bernal) é coreógrafo em uma companhia de dança contemporânea em Valparaíso e muitos anos mais velho que Ema. Por causa da infertilidade de Gastón, o casal adota um garoto. Pouco mais de um ano depois, porém, Polo (Cristián Suárez) coloca fogo no cabelo da tia, irmã de Ema, e é devolvido para a adoção. 

Quando o filme começa, a personagem-título já está traumatizada e lidando com os estigmas de ter falhado na missão maternidade. Culpados e perturbados, Gastón e Ema retroalimentam um jogo nocivo de acusações e abusos. Mas recai sobre Ema o maior peso dos recentes acontecimentos; e por isso é ela quem se mostra disposta a tudo para recuperar Polo.

FOGO, PSICODELIA E SENSUALIDADE

Uma protagonista em combustão, portanto, dá o tom psicológico e visual de  Ema. Com roteiro de Guillermo Calderón e Alejandro Moreno, a exuberante direção Larraín produz alegorias visuais para tratar da liberação de energia da personagem principal.

Imagem: divulgação

No ritmo erótico e urbano do reggaeton e sob a psicodelia do neon, Ema torna-se viciada no prazer e no perigo. Entorpecida e obstinada, ela brinca com a toxicidade de seu casamento e de suas outras relações como brinca com seu enorme lança-chamas.

Então, num profundo desespero por fazer a vida acontecer à sua maneira e beirando a autodestruição, a persona sustentada pela vigorosa interpretação de Di Girolamo passa a operar como um ímã em movimento. Magnética, Ema obriga o espectador a abrir mão de juízos de valor. O nosso prazer, tão paradoxal quanto o da jovem, está em observá-la, na tentativa de compreender como se dá essa manifestação do feminino que é afetada por uma conjuntura individual (de personalidade e contexto pessoal) e coletiva (de geração, contexto social, geográfico, cultural, etc). 

Em busca de liberdade, Ema se aprisiona cada vez mais em um labirinto danoso de conflitos de relacionamentos, procurando emancipação na sexualidade. Ao mesmo tempo, imersos na tela, nos encantamos por uma jornada nem um pouco encantadora. Ambicioso, o longa chega aos minutos finais sem nunca hesitar em avançar para o universo do possível as transtornadas expectativas da protagonista. Por isso seu impacto é tão irrefreável e inesquecível.

Em 1 de maio, Ema teve pré-estreia online e gratuita no MUBI para mais de 50 países. Ainda não há data de lançamento comercial prevista no Brasil.

Leia também: Retrato de uma Jovem em Chamas

Ficha Técnica:

Direção: Pablo Larraín

Duração: 1h47

País: Chile

Ano: 2019

Elenco: Mariana Di Girolamo, Gael García Bernal, Santiago Cabrera, Paola Giannini, Cristián Suárez

Gênero: Drama

Distribuição: Imovision

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