5 motivos incríveis para ver O Mundo Sombrio de Sabrina, da Netflix

Uma das séries de TV do momento, a original Netflix O Mundo Sombrio de Sabrina é baseada nas histórias da personagem Sabrina Spellman (criada sob o selo da Archie Comics, no início dos anos 60). O universo da bruxinha já fora adaptado para a televisão algumas vezes, sendo a mais famosa delas a sitcom Sabrina, Aprendiz de Feiticeira (1996-2003), exibida originalmente na TLC. Quanto à adaptação mais recente, sua primeira temporada está disponível na plataforma de streaming desde o último dia 26.

Se você ainda não assistiu à série, abaixo te contamos 5 motivos para dar o play neste momento. Confira!

Sabrina (Kiernan Shipka) e Salem, em pôster da série / Divulgação
1. A sátira bem-humorada de dogmas religiosos

De caráter muito mais ácido que a série dos anos 90, O Mundo Sombrio de Sabrina explora as influências da fictícia Igreja da Noite na vida de seus personagens. Há gerações, o Coven da cidade de Greendale, no Wisconsin (EUA), reúne toda a família Spellman. Zelda (Miranda Otto), Hilda (Lucy Davis), o primo Ambrose (Chance Perdomo) e, agora, Sabrina (Kiernan Shipka) integram à igreja satanista e tentam, ao máximo, não se desviarem de seus dogmas religiosos.

Fazendo alusão à Igreja Católica, a profana Igreja da Noite também tem como lema, a princípio, algo bastante nobre. Para a primeira, a oposição entre o que é “bom” e o que é “mau” é o que difere seus fiéis de pessoas ditas “desvirtuadas” – ou melhor, de infiéis. Já na satírica Igreja da Noite, o chamado “livre-arbítrio” é a base de seu séquito.

Mas, tal como as variáveis opressoras de qualquer outro grupo religioso que use da fé divina como ferramenta política, o Coven de Greendale age muito mais como uma espécie de fiscal de moralidade do que qualquer outra coisa. A partir daí, são construídos os inúmeros diálogos hilários – alguns conservadores, outros divertidos, mas todos cruelmente verossímeis –, que deixam sempre claro aos espectadores que aquilo que Sabrina menos tem em sua vida é o poder de escolha.

Zelda (Miranda Otto) e Hilda (Lucy Davis) / Divulgação
2. As referências a clássicos do Terror

Desde o primeiro episódio, a série faz referências a filmes clássicos do gênero de Horror. Sabrina, seu namorado, Harvey (Ross Lynch), e suas amigas, Roz (Jaz Sinclair) e Susie (Lachlan Watson), trocam observações e compartilham do gosto por histórias de zumbi e de demais monstros. Essa afeição dos personagens pelo gênero de filmes e livros de ficção contribui para o clima de Halloween durante quase toda a série. Há referências a A Noite dos Mortos-Vivos (1968), O Exorcista (1973), A Hora do Pesadelo (1984) e diversos outros títulos.

Gradualmente, tal familiarização com o Terror ajuda também o próprio espectador, que compra com maior facilidade a ideia de que esses personagens entram naturalmente em contato com o sobrenatural – seja este feito de mortos-vivos, demônios, espíritos de luz ou clarividência.

Susie (Lachlan Watson), Roz (Jaz Sinclair), Sabrina (Kiernan Shipka) e Harvey (Ross Lynch) / Divulgação
3. As bruxas (cada vez mais) empoderadas

Como não poderia faltar, O Mundo Sombrio de Sabrina pesa a mão – e com muita pertinência – no feminismo de suas bruxas. Tanto a aproximação daquilo que lhes é sagrado (como a própria sexualidade), quanto as dificuldades da irmandade feminina dentro da Igreja da Noite, a série sempre busca expor o papel da bruxa naquela sociedade.

As bruxas do passado, por exemplo, trazidas ao programa de TV através dos espíritos de mulheres enforcadas em Greendale, relembram o tipo mais vil de discriminação contra o gênero feminino. Mesmo no presente em que a série se passa, o revanchismo e as limitações impostas às mulheres ainda são comuns – e isso se estende, é claro, às personagens mortais, como Roz e a não-binária Susie.

De qualquer forma, a força psicológica é característica comum a cada uma dessas figuras. Zelda, uma das tias de Sabrina, é autoritária e pouco questionadora quando se trata de seu Coven, mas tem um perfil de liderança admirável. Hilda parece frágil e dependente da irmã, mas é extremamente justa e, em muitos momentos, atua como um ponto de equilíbrio para Sabrina. Já Prudence (Tati Gabrielle), uma das antagonistas da trama, tem seus próprios valores e crê, (quase) cega e ingenuamente, em sua religião.

Mesmo que imperfeitas, as bruxas de Greendale são complexas e muito interessantes. E, ao longo dos dez episódios da série, sua história se desenvolve de modo a empoderá-las sempre mais.

As Irmãs Estranhas: Agatha (Adeline Rudolph), Dorcas (Abigail Cowen) e Prudence (Tati Gabrielle) / Divulgação
4. O misticismo da cidade de Greendale

Misteriosa e enevoada, a cidade de Greendale é a ambientação perfeita para os desdobramentos dessa história. Com uma floresta sombria e casas antigas, mortais e bruxos convivem em harmonia, sem que os primeiros tenham noção da real identidade dos segundos.

Assim, a ambientação ajuda, por si só, na criação de uma atmosfera mística. Não há muitas cenas externas (ao ar livre) na série, mas, isso não significa que os cenários das casas, da escola Baxter e da Academia de Artes Ocultas sejam menos “horripilantes” que os da floresta local, por exemplo.

Sem que seja mencionado, uma única vez, o ano exato em que os eventos narrados se passam, a intenção da direção de arte de criar uma atmosfera dos anos 60 é bastante clara. Não há celulares, computadores, ou demais aparelhos tecnológicos. Ainda assim, o comportamento dos mais jovens e alguns diálogos parecem totalmente atuais.

O cinema da cidade, aliás, é o ponto de encontro de muitos dos jovens de Greendale. Outro local badalado é o café, onde os alunos da escola Baxter passam seu tempo livre. Dessa forma, o clima de cidade pequena nos deixa mais íntimos de O Mundo Sombrio de Sabrina; à medida em que o ocultismo divertido da família Spellman toma conta da série por inteiro.

Sra. Wardwell (Michelle Gomez) / Divulgação
5. A dualidade dos personagens principais – como a do próprio Diabo

E, por último, mas não menos importante, falemos sobre a principal causa do conflito da série: a dualidade de seus personagens. Mesmo que a vilã, Sra. Wardwell (Michelle Gomez), não apresente muitas camadas para além de seu jogo vil de manipulação, todos os outros personagens têm caráter ambíguo, até mesmo o “Senhor das Trevas” (Satã) – e cada um à sua forma, é claro.

As Irmãs Estranhas – Prudence, Agatha (Adeline Rudolph) e Dorcas (Abigail Cowen) –, por exemplo, são um trio de bruxas da Academia de Artes Ocultas. Maldosas e elitistas, elas também podem ser bem leais a outrem, se conquistadas. Já as tias de Sabrina, apesar de representarem o elo da sobrinha com o mundo bruxo, incentivam a menina a zelar pelos mortais.

A própria Sabrina, metade bruxa, por parte de pai, tem de lidar com suas duas vidas, tão distintas uma da outra. Enquanto isso, os amigos da protagonista entram em contato com seus mais profundos sentimentos. Novamente, deparamo-nos com a dualidade. E, finalmente, isso nos leva à figura de Satã. O vilão, mesmo que apareça poucas vezes, é mencionado o tempo todo na trama. E, somente por sua fama dentro e fora de telas, um perfil de crueldade seria a aposta mais cômoda da produção da Netflix. Mas, não é isso o que acontece.

Felizmente, o Senhor das Trevas é colocado como um antagonista do Deus cristão (ou, o “falso Deus”, como é chamado pelos personagens); que é rígido e que condena. Na filosofia pagã da série, Satã é aquele que nos proporciona o livre-arbítrio. Portanto, ele seria muito mais receptivo e permissivo do que o Deus cristão.

Para se ter uma ideia, depois de ser expulsa do Paraíso, segundo conta tia Zelda, Eva teria sido acolhida por Lúcifer, o anjo renegado (ou melhor, pelo próprio Diabo). Assim, ao mesmo tempo em que Satã é cruel e tão restritivo quanto qualquer outro religioso cego, ele também proporciona momentos de prazer – como mais ninguém. Dessa forma, a história se delineia; ao redor da ambiguidade de figuras, no mínimo, curiosas.

Imagem: divulgação

 

Ficha técnica

Criação: Roberto Aguirre-Sacasa

País: EUA

Ano: 2018

Elenco: Kiernan Shipka, Ross Lynch, Miranda Otto, Lucy Davis

Gênero: Fantasia, Terror, Drama

Distribuição: Netflix

 

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