Samantha!: 2ª temporada estrutura um futuro promissor para a série e não abandona as boas doses de humor ácido

Samantha (Emanuelle Araújo) finalmente conseguiu holofotes, mas não da maneira que desejava. A nova temporada de Samantha! chegou à Netflix no último dia 19 com uma “nova fase” da personagem: agora, a ex-estrela mirim quer abandonar a imagem de criança cruel e egoísta que a acompanhou por toda a vida e provar ao povo brasileiro que cresceu e tornou-se uma mulher madura.

Claro que essa vontade não aparece do nada. Logo no primeiro episódio, Tico (Rodrigo Pandolfo) e Bolota (Maurício Xavier), ex-integrantes da Turminha Plimplom, surgem querendo adaptar para o cinema o livro best-seller “Samontra”, espécie de biografia não autorizada que conta como os dois eram maltratados por Samantha na infância. Então, tentando melhorar a própria imagem, a protagonista começa sua jornada de amadurecimento – ao melhor estilo Samantha, obviamente.

‘Samantha!’ / Divulgação

Se na primeira temporada a série recorreu à nostalgia do espetáculo televisivo brasileiro dos anos 1980 para ambientar a trama e apresentar seus personagens, dessa vez Samantha! se aprofunda na subjetividade da personagem-título, trazendo novas discussões, abordagens e figuras inéditas, como Socorro (Zezé Barbosa), mãe de Dodói (Douglas Silva).

Nos novos sete episódios, a produção também começa a conversar com o espetáculo contemporâneo, ao mesmo tempo em que desenvolve as relações familiares de Samantha e explora fragmentos de sua infância que até então sequer haviam sido mencionados. Fica claro que a intenção da nova temporada é alavancar transições, estruturando um futuro consistente e desenvolvendo material para que os próximos episódios não sejam limitados pelo passado da protagonista.

Aos poucos, toda a família de Samantha ganha maior complexidade e mais espaço. Nesta segunda temporada, a família é, de um jeito ou de outro, o epicentro dos conflitos. Dodói, por exemplo, tenta desvencilhar sua imagem de uma marca de bebida alcoólica, tomar as rédeas da própria carreira, ser um bom pai e se livrar dos cuidados abusivos da mãe – personagem que brinca com a ideia da “matriarca controladora” que compõe  a imagem popular da família brasileira.

Já Cindy (Sabrina Nonata) e Brandon (Cauã Gonçalves) continuam demonstrando que crianças podem ter muito a aprender, mas também têm muito a ensinar. Cindy, quase sempre mais madura que os pais, procura defender o que acredita, enquanto lida com as incertezas da adolescência. E Brandon continua se recusando a aceitar o título de criança. Os dois carregam os ares das gerações que estão crescendo com novas posturas diante do mundo.

Imagem: divulgação

Até mesmo os conflitos de subcelebridade de Samantha passam a ter muito mais a ver com família. Tanto porque ela insiste que ser uma mulher madura exige ser uma mãe mais presente como pelo fato de os novos episódios desvendarem as origens e os traumas de infância da personagem.

Chamam a atenção também os temas muito oportunos tratados nos episódios três e sete. No primeiro, a crítica é sobre como programas de TV podem transformar assuntos sérios como o feminismo em intrigas ridículas somente para a alavancar o ibope, sem o menor constrangimento. E no outro,  a série alfineta a cobertura abutre da mídia de massas que se envolve com casos policiais antes mesmo do que as autoridades. É o suprassumo do vale tudo pelo espetáculo.

Sempre usando a via do deboche inteligente, sutil, mas certeiro, Samantha! se edifica como uma série arrojada, que conhece perfeitamente o terreno por onde pisa e caminha com tranquilidade pelos limites do humor ácido. Debochar do entretenimento  e da cultura de massas sendo entretenimento para as massas com tamanho atrevimento é para poucos, e a original Netflix o faz com graça e personalidade.

Trailer:

(Fonte: Netflix Brasil/ YouTube)

Ficha técnica – 2ª Temporada

Criação: Felipe Braga

País: Brasil

Ano: 2019

Elenco: Emanuelle Araújo, Douglas Silva, Sabrina Nonato, Cauã Gonçalves

Gênero: Comédia

Distribuição: Netflix


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