Crítica: Sempre Bruxa (2ª Temporada)

Estreou, no último dia 28 e sem qualquer divulgação, a segunda temporada da colombiana original Netflix Sempre Bruxa. Nos novos episódios, a jovem Carmen Eguiluz (Angely Gaviria) está mais consciente de seus poderes e completamente adaptada ao século XXI.  A trama, porém, segue tão desleixada quanto na temporada anterior.

‘Sempre Bruxa’/ Divulgação

Em meio a conflitos amorosos e picuinhas adolescentes, feitiçaria, piratas e viagens no tempo servem como meros adereços narrativos. O universo fantástico é pouco convincente e o desenvolvimento dos personagens é burocrático – suas motivações e rotinas servem apenas como trampolim para alavancar o arco de Carmen.

A TRAJETÓRIA DA PROTAGONISTA

Depois de receber críticas sobre o problemático caso de amor entre Carmen e o filho da família que a mantinha escravizada, Sempre Bruxa precisou livrar-se de Cristóbal (Lenard Vanderaa); descartando-o sem cerimônias. Isso, claro, não serviu para que Carmen seguisse independente. Com Cristóbal cancelado, a jovem encontrou um novo pretendente chamado Antares (Junior González), também bruxo. Já Esteban (Sebastian Eslava), a outra ponta dos triângulos amorosos da protagonista, passa a temporada toda de escanteio; até que, sem grandes explicações, decide abandonar tudo e abrir mão de viver no mesmo tempo que a moça. Torna-se incômodo, aliás, como a série valoriza em excesso crises bobas de relacionamento. 

Imagem: divulgação

Outra falha grave da temporada é a postura de Carmen. Ao que tudo indica, a equipe criativa da produção confunde empoderamento feminino e autoconfiança com presunção. Assim, não raras vezes Carmen é bastante egoísta em relação aos amigos; o que acaba prejudicando qualquer simpatia do público por seu arco. Isso parece acontecer especialmente por uma inabilidade do roteiro em lidar com  elaborações complexas de personalidades. Da mesma forma, o enredo demonstra dificuldade em manter continuidades e causas e consequências – por isso viagens no tempo nunca causam nenhuma complicação entre passado, presente e futuro e celulares do século XXI bizarramente funcionam no século XVI.

A BRUXARIA ESTÁ NA MODA 

Fica claro também que Sempre Bruxa pertence ao modelo de negócio audiovisual que se fez rentável nos últimos tempos: obras “feministas” protagonizadas e realizadas por mulheres, que levantam a bandeira da representatividade e resgatam a bruxaria como elemento fantástico e de crítica social; símbolo de empoderamento feminino.

‘Sempre Bruxa’/ Divulgação

O problema é que mesmo colocando no centro da trama uma personagem afro-latina, antes escravizada e perseguida,  a série nunca se compromete em criticar estruturas de poder com pulso firme . Ou seja: há, na premissa, um enorme teor político; algo que na prática não se concretiza. Até quando decide descartar Cristóbal a produção se omite, recusando-se a usá-lo como material para discussões importantes e preferindo apenas eliminá-lo de forma rápida e sorrateira.

São feitas referências claras a caça às bruxas do período da colonização e, com algum esforço, notamos que as difamações sofridas por Carmen na internet sugerem uma espécie de caça às bruxas tecnológica; contudo, tais referências operam apenas como marcador temporal, e nunca como compromisso com o peso da temática da obra – diluído em frases prontas sobre liberdade e igualdade ao longo dos episódios.

É por isso que, no fim, Sempre Bruxa soa muito mais como uma Malhação tropical cheia de conflitos de relacionamento e penduricalhos do universo da fantasia do que como potência no quesito realismo-fantástico. Com vilões quase caricatos, um desenrolar frágil e mensagens tolas, resta à obra o carisma do elenco, as belas paisagens de Cartagena e a animada trilha sonora composta por músicas latinas contemporâneas.

Ficha técnica – 2ª Temporada

Criação: Ana Maria Parra

País: Colômbia

Ano: 2020

Elenco: Angely Gaviria, Dylan Fuentes, Luis Fernando Hoyos, Verónica Orozco, Sebastián Eslava, Óscar Casas, Sofía Araújo, Valeria Emiliani

Gênero: Drama, Fantasia

Distribuição: Netflix

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