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[Coluna] O engessamento das pautas identitárias nas premiações hollywoodianas
Em 2018, os movimentos organizados por mulheres abalaram as estruturas misóginas de Hollywood. Como resultado de feminismos que vêm sendo discutidos nos últimos anos por toda a sociedade, atrizes e trabalhadoras da indústria cinematográfica norte-americana usaram seus espaços em premiações como Globo de Ouro, Sag Awards e Oscar para dar palco aos seus discursos e denúncias sobre violência de gênero e disparidade salarial no cinema.
6 momentos do Oscar 2018 que fizeram a cerimônia valer muito a pena
SAG Awards: O movimento pela igualdade de gênero em Hollywood é um caminho sem volta
A 24ª cerimônia de premiação do SAG Awards (prêmio do sindicato de atores dos Estados Unidos) deixou claro que as recentes manifestações de mulheres da indústria cinematográfica hollywoodiana não são “fogo de palha”, como alguns acreditam.
Depois de todos os protestos e discursos no Globo de Ouro, as atrizes participaram, no último sábado (20), da Marcha das Mulheres – que tomou conta das ruas de várias cidades americanas, e que foi contra a gestão do presidente Trump e à favor de iniciativas como o #MeToo (hashtag que levantou denúncias sobre assédio e abuso sexual).
Algumas das atrizes presentes chegaram a fazer discursos durante o evento. Entre elas: Viola Davis, Natalie Portman e Scarlett Johansson – que se posicionou contra homens que usam broches “pró-Time’s Up” publicamente, mas, em suas vidas privadas, continuam exercendo opressões de gênero. Logo no dia seguinte (21), as atrizes marcaram presença também no prêmio do Sindicato, ainda com belos discursos e fortes demonstrações de irmandade.
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Até a edição passada, o SAG Awards foi comandado por um anunciador e apresentadores homens em várias categorias. Neste ano, a atriz Kristen Bell (The Good Place) ocupou o lugar de primeira mestra de cerimônias da premiação. Como tal, a atriz chegou a brincar com The Handmaid’s Tale, chamando a série de ficção de “documentário” – uma insinuação de que aquele contexto, distópico e trágico para as mulheres, não está tão longe da realidade. Além disso, todas as categorias foram apresentadas por mulheres. O que foi uma homenagem aos recentes protestos.
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Nicole Kidman, que ganhou o prêmio de Melhor Atriz em Minissérie por Big Little Lies, usou seu discurso para enaltecer o trabalho de atrizes que já passaram dos 40 anos de idade. A atriz também pediu para que a indústria financie e valorize histórias que contemplem mulheres mais velhas. Vale lembrar que Big Little Lies, cujo foco é contar histórias de mulheres cheias de segredos, só foi possível graças à produtora feminista de Reese Whiterspoon.
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Gabrielle Carteris, presidente do Sindicato dos Atores, manifestou seu apoio aos protestos das atrizes e afirmou que a onda de reivindicações não é momentânea. “Podemos e devemos criar um ambiente no qual discriminação, assédio e abuso já não são tolerados. Não se enganem: isto não é um momento, é um movimento. E nossa força vem da nossa união”, declarou.
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Aziz Ansari, mais um dos atores acusados de assédio em Hollywood, não compareceu à premiação e nem levou a estatueta (Ansari concorria à Melhor Ator em Comédia por Master of None). Já James Franco, outro acusado, deu as caras no evento. Apresentado sob tímidos aplausos, o ator se mostrou retraído diante das câmeras e também não levou o prêmio de sua categoria (Melhor Ator por O Artista do Desastre).
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Além dos discursos pelos Direitos das Mulheres, o SAG contou com ótimas alfinetadas durante a entrega do prêmio de Melhor Ator em Série Dramática. Antes de Sterling K. Brown (o vencedor da categoria) subir ao palco e fazer seu discurso de agradecimento, as apresentadoras “brincaram” com a predominância de nomeados brancos, em relação ao único homem negro (K. Brown) e à ausência de asiáticos.
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Time’s Up – O senso comum só se incomoda com o assédio sazonalmente
A CARTA NO LE MONDE
No último dia 9, dois dias após o Globo de Ouro, cem artistas e intelectuais francesas assinaram uma carta no jornal Le Monde, criticando o suposto “excesso de zelo” dirigido à questão do assédio durante a cerimônia. Entre as assinantes, está a atriz Catherine Deneuve (A Bela da Tarde / Os Guarda-Chuvas do Amor), de 74 anos, uma das personalidades francesas mais conhecidas no mundo. No manifesto, está evidenciado um dos motivos pelos quais tantas vítimas de abusos sexuais de diversos lugares do globo não denunciam os chamados “predadores sexuais“: a dificuldade do senso comum em aceitar a diferença entre assédio e paquera. Vamos, portanto, deixar clara, aqui, tal diferença.
Segundo o dicionário Aurélio, assédio é o “ato ou efeito de assediar; (…) comportamento desagradável ou incômodo a que alguém é sujeito repetidamente; (…)”, enquanto que assédio sexual é tido como o “conjunto de atos ou ditos com intenções sexuais, geralmente levado a cabo por alguém que se encontra em posição hierárquica, social, econômica, etc.”. Sendo assim, quando uma pessoa se sente incomodada com as investidas sexuais de uma outra, cujas intenções e ações foram desmedidas – e com o propósito único de estabelecer certo domínio sobre o corpo da primeira –, o incômodo em questão é consequência direta de um ato assedioso.
(Abaixo, vídeo divulgado na página pessoal do Instagram da atriz Brie Larson, a respeito da campanha Time’s Up no Globo de Ouro):
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inúmeras famosas e anônimas acusarem o (ex-)produtor hollywoodiano Harvey Weinstein de abuso sexual