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[Coluna] O engessamento das pautas identitárias nas premiações hollywoodianas
Em 2018, os movimentos organizados por mulheres abalaram as estruturas misóginas de Hollywood. Como resultado de feminismos que vêm sendo discutidos nos últimos anos por toda a sociedade, atrizes e trabalhadoras da indústria cinematográfica norte-americana usaram seus espaços em premiações como Globo de Ouro, Sag Awards e Oscar para dar palco aos seus discursos e denúncias sobre violência de gênero e disparidade salarial no cinema.
Conheça os ganhadores da quinta edição do Prêmio Platino, o Oscar do cinema latino
Na noite de ontem (29) aconteceu a 5ª edição da cerimônia do Prêmio Platino do cinema Ibero-Americano (transmitida no Brasil pelo Canal Brasil). A premiação, que este ano foi sediada na Riviera Maya, México, é uma importante vitrine para divulgar as produções cinematográficas e televisivas da América Latina, Espanha e Portugal. A partir da lista de indicados podemos ter contato com parte do que há de melhor no cinema de países que são tão pouco contemplados pelas grandes premiações da indústria internacional.
Nesta edição, o Brasil concorreu em cinco categorias, mas apenas Renata Pinheiro saiu premiada por Melhor Direção de Arte pelo filme Zama. Em seu discurso, a brasileira falou em português, agradeceu a diretora Lucrecia Martel e pediu por Lula Livre, marcando a presença política do Brasil na premiação.
As outras indicações brasileiras foram: Melhor Música Original (para Plínio Profeta por O Filme da Minha Vida), Melhor Animação (para História Antes de Uma História e Lino – Uma Aventura de Sete Vidas), Prêmio Platino Ao Cinema e Educação em Valores (para Como Nossos Pais) e Melhor Interpretação Masculina em Minissérie ou Telessérie (para Júlio Andrade por Um Contra Todos).
Igualdade de gênero foi a pauta principal da quinta edição do Prêmio Platino, mas diferente do Oscar, o assunto não ficou restrito apenas ao discurso dos vencedores. Dentre as indicações, chamou atenção a quantidade de mulheres presente nas categorias. Dos dez indicados a Melhor Direção e Melhor Roteiro, cinco eram mulheres. Duas diretoras e três roteiristas.
Logo no início da noite, o apresentador Eugenio Derbez também fez questão de ressaltar que a estátua da premiação é uma mulher. Mais tarde, uma batalha de rappers (um mexicano e um espanhol), pediu pela união do cinema ibero-americano e pela revolução ibero-americana e feminista. Além disso, as categorias de Melhor Ator e Melhor Atriz (tanto de cinema, quanto de série de TV) foram apresentadas juntas, em nome da igualdade.
O grande vencedor da edição não surpreendeu ninguém, mas fez valer suas vitórias. Depois de levar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, Uma Mulher Fantástica, do chileno Sebastián Lelio, levou cinco dos noves prêmios em que foi indicado, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Atriz, para Daniela Vega. A atriz aproveitou seu discurso para dizer que falar sobre o direito das mulheres é uma moda muito bonita, mas não passageira. Ela ainda pediu uma salva de palmas em homenagem às mulheres ibero-americanas.
Durante o evento, alguns outros discursos também chamaram atenção. O apresentador salientou a importância de pagar por obras latinas, como atitude de fomento à nossa indústria que já é tão desvalorizada. Já a atriz Adriana Barraza, conhecida por trabalhar com o diretor Alejandro G. Iñárritu em Amores Brutos e Babel, recebeu um prêmio de honra pelo conjunto de sua carreira e aproveitou para homenagear os três estudantes de cinema mexicanos que foram mortos pelo narcotráfico. Barranza ainda falou contra a violência e pediu para que o México cuide de suas crianças e de seu futuro.
A noite, que começou com um belo vídeo sobre a potência do cinema ibero-americano – com destaque para o ano de 2017, que produziu mais de 850 filmes, de 23 países – terminou com uma magnífica apresentação folclórica mexicana. Mesmo com sua jovem trajetória de cinco anos, o Prêmio Platino se consagra como evento essencial para a nossa indústria.
Confira a lista de indicados e ganhadores:
MELHOR FILME IBERO-AMERICANO DE FICÇÃO
A Cordilheira (Argentina, Espanha) – Disponível no Google Play
A Livraria (Espanha) – Disponível na Netflix
Últimos Dias em Havana ( Cuba, Espanha) – Disponível no Google Play
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Zama ( Argentina, Brasil, México, Portugal e Espanha) – Disponível no Google Play e Looke
MELHOR DIREÇÃO
Alex de la Iglesia por Perfeitos Desconhecidos (Espanha) – Disponível na Netflix
Fernando Pérez por Últimos Dias em Havana ( Cuba, Espanha)
Isabel Coixet por A Livraria (Espanha)
Lucrecia Martel por Zama ( Argentina, Brasil, México, Portugal e Espanha)
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MELHOR ROTEIRO
Carla Simón por Verão 1993 (Espanha) – Disponível no Google Play
Fernado Pérez e Abel Rodríguez por Últimos Dias em Havana (Cuba, Espanha)
Isabel Coixet por A Livraria (Espanha)
Lucrecia Martel por Zama ( Argentina, Brasil, México, Portugal e Espanha)
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MELHOR MÚSICA ORIGINAL
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SAG Awards: O movimento pela igualdade de gênero em Hollywood é um caminho sem volta
A 24ª cerimônia de premiação do SAG Awards (prêmio do sindicato de atores dos Estados Unidos) deixou claro que as recentes manifestações de mulheres da indústria cinematográfica hollywoodiana não são “fogo de palha”, como alguns acreditam.
Depois de todos os protestos e discursos no Globo de Ouro, as atrizes participaram, no último sábado (20), da Marcha das Mulheres – que tomou conta das ruas de várias cidades americanas, e que foi contra a gestão do presidente Trump e à favor de iniciativas como o #MeToo (hashtag que levantou denúncias sobre assédio e abuso sexual).
Algumas das atrizes presentes chegaram a fazer discursos durante o evento. Entre elas: Viola Davis, Natalie Portman e Scarlett Johansson – que se posicionou contra homens que usam broches “pró-Time’s Up” publicamente, mas, em suas vidas privadas, continuam exercendo opressões de gênero. Logo no dia seguinte (21), as atrizes marcaram presença também no prêmio do Sindicato, ainda com belos discursos e fortes demonstrações de irmandade.
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Até a edição passada, o SAG Awards foi comandado por um anunciador e apresentadores homens em várias categorias. Neste ano, a atriz Kristen Bell (The Good Place) ocupou o lugar de primeira mestra de cerimônias da premiação. Como tal, a atriz chegou a brincar com The Handmaid’s Tale, chamando a série de ficção de “documentário” – uma insinuação de que aquele contexto, distópico e trágico para as mulheres, não está tão longe da realidade. Além disso, todas as categorias foram apresentadas por mulheres. O que foi uma homenagem aos recentes protestos.
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Nicole Kidman, que ganhou o prêmio de Melhor Atriz em Minissérie por Big Little Lies, usou seu discurso para enaltecer o trabalho de atrizes que já passaram dos 40 anos de idade. A atriz também pediu para que a indústria financie e valorize histórias que contemplem mulheres mais velhas. Vale lembrar que Big Little Lies, cujo foco é contar histórias de mulheres cheias de segredos, só foi possível graças à produtora feminista de Reese Whiterspoon.
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Gabrielle Carteris, presidente do Sindicato dos Atores, manifestou seu apoio aos protestos das atrizes e afirmou que a onda de reivindicações não é momentânea. “Podemos e devemos criar um ambiente no qual discriminação, assédio e abuso já não são tolerados. Não se enganem: isto não é um momento, é um movimento. E nossa força vem da nossa união”, declarou.
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Aziz Ansari, mais um dos atores acusados de assédio em Hollywood, não compareceu à premiação e nem levou a estatueta (Ansari concorria à Melhor Ator em Comédia por Master of None). Já James Franco, outro acusado, deu as caras no evento. Apresentado sob tímidos aplausos, o ator se mostrou retraído diante das câmeras e também não levou o prêmio de sua categoria (Melhor Ator por O Artista do Desastre).
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Além dos discursos pelos Direitos das Mulheres, o SAG contou com ótimas alfinetadas durante a entrega do prêmio de Melhor Ator em Série Dramática. Antes de Sterling K. Brown (o vencedor da categoria) subir ao palco e fazer seu discurso de agradecimento, as apresentadoras “brincaram” com a predominância de nomeados brancos, em relação ao único homem negro (K. Brown) e à ausência de asiáticos.
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A Corrida para o Oscar 2018 de Melhor Atriz
Na última segunda-feira (11), foram divulgados os indicados ao Globo de Ouro 2018. Nas categorias de Melhor Filme (Drama e Comédia ou Musical) destacam-se Me Chame Pelo Seu Nome, Dunkirk, A Forma da Água, The Post – A Guerra Secreta, Corra! e Lady Bird – Hora de Voar. Na quarta (13), dois dias depois da divulgação, os indicados ao SAG Awards 2018 também foram anunciados.
Sendo assim, podemos considerar largada a corrida para a 90ª edição dos Academy Awards. Uma das categorias mais habitualmente comentadas dessas premiações é a de Melhor Atriz Principal. Desta vez, segundo o site Spoiler Movies – que realiza previsões bastante assertivas das indicações ao Oscar –, cinco atrizes estão cotadas para a categoria principal de atuação feminina: Frances McDormand (Três Anúncios para um Crime), Sally Hawkins (A Forma da Água), Margot Robbie (Eu, Tonya), Saoirse Ronan (Lady Bird) e Meryl Streep (The Post).
Das cinco, apenas a veterana Streep não foi indicada ao SAG do ano que vem, sendo “substituída” por Judi Dench (Victoria e Abdul). Quanto ao Globo de Ouro, todas as cinco atrizes foram anunciadas às categorias principais. Mesmo que Streep não tenha levado aquela indicação, considerando seu histórico de “queridinha da Academia”, muito provavelmente a gigante aparecerá entre as disputantes pelo Oscar 2018 – lembrando que Meryl foi indicada 20 vezes à premiação, das quais 16 foram à Atriz Principal, e levou o prêmio três vezes.
Frances McDormand foi anunciada quatro vezes como concorrente aos prêmios de atriz da Academia, tendo vencido em sua única indicação à Principal por Fargo, em 1997. Quanto à jovem de 23 anos, Saoirse Ronan, apesar da pouca idade, já é considerada veterana em Hollywood. Ronan foi indicada ao Oscar pela primeira vez aos 14 anos de idade, pelo drama Desejo e Reparação. Depois, aos 21, foi indicada novamente, pela primeira vez como Atriz Principal, por Brooklyn.
Já a inglesa Sally Hawkins atuou em duas dezenas de filmes, mas apenas em 2014 foi indicada ao Oscar de Atriz Coadjuvante, por Blue Jasmine. Se sua indicação for confirmada para o próximo Academy Awards, essa seria sua primeira nomeação por um papel principal. E, por último, mas não menos importante, temos a popular Margot Robbie. Ao contrário de suas possíveis concorrentes ao Oscar, Robbie é a única a nunca ter sido indicada a um Globo de Ouro ou SAG Awards – até agora. Com sua atuação no filme Eu, Tonya, no qual ela deu vida à real protagonista de um dos maiores escândalos esportivos da história, Margot chamou a atenção da crítica especializada, que logo tratou de especular indicações de Melhor Atriz para a jovem de 27 anos.
Assim como Eu, Tonya, A Forma da Água e Lady Bird têm feito bastante barulho, até mesmo aqui no Brasil. A semelhança entre os três filmes se dá apenas no protagonismo de jovens mulheres: uma patinadora rebelde dos anos 90, uma zeladora muda e sensível na década de 60, e uma adolescente confusa e sonhadora dos anos 2000. Filmes tão diferentes, mas que, com certeza, denotam muita importância para a representação feminina no cinema. Enquanto isso, Streep e McDormand demonstram toda a força de suas atuações, interpretando, respectivamente, uma jornalista disposta a trazer à tona uma verdade escondida por 30 anos e uma mãe desesperada para vingar o assassinato da filha.
Esperemos, então, pelos próximos capítulos da “saga do Oscar”, assim como pela confirmação dessas cinco maravilhas na categoria de Atriz Principal. A Forma da Água tem previsão de estreia no Brasil para 11 de janeiro, The Post para 25 de janeiro, Três Anúncios para um Crime para 8 de fevereiro, Eu, Tonya para 15 de fevereiro e Lady Bird para 5 de abril. Já a 90ª cerimônia do Oscar será realizada em 8 de março de 2018, em Los Angeles (Califórnia), e será transmitida na televisão pelo canal pago TNT.
*Texto originalmente publicado em 14/12/17