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5 filmes para você se apaixonar de vez pelo cinema nacional
Quanto mais pessoas estiverem por dentro dos últimos lançamentos, independentemente do gênero a que pertencerem, mais fácil será para que aceitemos a relevância do nosso cinema – inclusive, internacionalmente. Seguindo essa linha, selecionamos
cinco títulos brasileiros que farão você se apaixonar de vez pelo cinema nacional
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Arábia é a prova de que o cinema nacional é especial e pulsante
O cinema nacional anda a todo vapor, produzindo obras primas contemporâneas que abordam questões profundamente brasileiras e urgentes. Nos últimos anos, filmes como Que Horas Ela Volta?, Era o Hotel Cambridge, Como Nossos Pais, Branco Sai, Preto Fica e Hoje Eu Quero Voltar Sozinho despontaram como preciosidades do nosso cinema. Agora, com a estreia de Arábia, vencedor da categoria de Melhor Filme do Festival de Brasília 2017, essa lista só tem a ganhar.
Dirigido por Affonso Uchoa e João Dumans, Arábia começa tomando as telas de cinema com um belíssimo e impecável plano sequência do personagem André (Murilo Caliari) pedalando pela paisagem de Ouro Preto. André é um jovem que, com ajuda da tia enfermeira, precisa cuidar do irmão caçula que sofre de problemas respiratórios causados (provavelmente) pelos resíduos da fábrica de alumínio próxima à sua casa. Os pais dos garotos se ausentam por longos períodos de tempo para trabalhar, deixando a cargo do filho mais velho as responsabilidades cotidianas da casa.
A certa altura do primeiro ato do filme, Cristiano (Aristides de Sousa), um funcionário da fábrica, se acidenta. André, atendendo ao pedido da tia, vai até a casa de Cristiano pegar algumas roupas e encontra o diário do operário. A partir daí, a narrativa sofre uma reviravolta corajosa e muda o protagonismo para a vida de Cristiano – que se torna também narrador.
Até o momento em que o título do filme surge preenchendo a tela, André parecia ser o protagonista da trama, afinal, trata-se de um personagem um tanto quanto melancólico e solitário, que carrega consigo questões importantes, como a ausência dos pais, que precisam dedicar tempo integral ao trabalho para conseguirem dar uma vida minimamente confortável aos filhos.
Mas, quando Arábia toma outro rumo e migra o foco para Cristiano, a abordagem sobre a relação indivíduo e trabalho se torna extraordinariamente significativa. Uma infinidade de pautas que são tratadas diariamente no país – principalmente no momento em que estamos, onde um governo ilegítimo tenta minar todo e qualquer direito do trabalhador, das classes menos privilegiadas e das minorias – passam a ser expostas de forma absolutamente especial. Delicada e crua, ao mesmo tempo. Poética, cruel e, ás vezes, embalada por uma trilha sonora emocionante e muito brasileira.
Cristiano é um indivíduo. Sua trajetória é particular, sem dúvidas. Mas sua vida está ali, exposta, representando o trabalhador brasileiro e todos aqueles que são marginalizados de alguma forma. Todos aqueles que são invisibilizados e possuem seus direitos negados constantemente, dia após dia, nas mais variadas circunstâncias.
O protagonista de Arábia é vítima direta de uma sociedade que se diz “de bem”, mas que exclui um homem que já foi preso e já cumpriu sua pena. Um homem que, mais tarde, é jogado à desumanidade de uma série de trabalhos irregulares e insalubres que não lhe garantem o mínimo de dignidade. Cristiano é alguém que pensa seu papel no mundo constantemente, mas percebe que sozinho não consegue medir forças com a engrenagem que o massacra cotidianamente.
Apesar de duro, o filme mineiro é “generoso” em oferecer ao espectador o tempo necessário para a assimilação de tudo o que foi visto. Depois de escancarar a ferida, Arábia se fecha em uma tela preta de alguns segundos. Alguns dos segundos mais duros e necessários que o cinema brasileiro poderia proporcionar.
Veja o trailer de Arábia:
De acordo com dados, mulheres são destinadas a dirigirem filmes de menor orçamento
Há alguns anos, felizmente, o assunto cinema e mulheres na direção tem rendido boas discussões. Em 2016, Anna Muylaert fez barulho no cinema nacional com seu filme Que Horas Ela Volta?, e também com seu posicionamento de enfrentamento perante os entraves que a indústria cinematográfica coloca no caminho de profissionais femininas. Já em 2017, Patty Jenkins entrou para a história como a primeira mulher a dirigir um filme de super-herói. Além disso, a diretora também contou com um grande orçamento – raramente destinado a mulheres – para fazer o seu Mulher-Maravilha. Antes dela, apenas Kathryn Bigelow havia trabalhado com uma verba acima de 100 milhões de dólares.
No Brasil, Muylaert já vinha usando debates e exibições de seu filme para discutir como as mulheres são sempre obrigadas a provarem uma maior qualificação, antes de conseguirem trabalhos no cinema, e como as produções com grandes orçamentos são sempre “naturalmente” destinadas a homens. Tal dinâmica funciona como se dinheiro fosse automaticamente sinônimo de direção masculina. Por isso, Jenkins ter conseguido fazer um filme tão grandioso de uma super-heroína serviu para levantar o debate acerca dessas questões a nível mundial.
Fazer filmes de ficção custa muito caro e, se a indústria não coloca dinheiro na mão das mulheres, por sempre pensarem primeiro em nomes masculinos, fica complicado que elas mostrem seu trabalho para o grande público. Dessa dinâmica, surge a necessidade do maior envolvimento de mulheres com produções de menor orçamento – como os filmes independentes ou os documentários. Essa realidade não seria ruim se acontecesse por opção, mas parece ser trajeto determinado quando o assunto é mulher e cinema.
Em 2014, a New York Film Academy divulgou um infográfico cujos dados, analisando os 500 filmes mais vistos no período entre 2007 e 2012, revelavam que, apesar de mulheres serem responsáveis por comprarem metade dos ingressos vendidos nos EUA, elas ainda estão pouco presentes atrás das câmeras – além de dirigirem mais documentários (34.5%) do que ficções (16.9%). No Brasil, o boletim “Raça e gênero no cinema brasileiro”, do Instituto GEMAA, revela que, entre os anos de 1970 e 2016, os filmes com grande público (acima de 500.000 espectadores) foram predominantemente dirigidos por homens (98%). Um diretor não-branco sequer foi identificado, assim como, entre os 2% de diretoras mulheres, nenhuma é negra.
O anuário da Ancine de 2016 ainda indica que, no Brasil, apenas 20.4% dos títulos lançados no cinema foram dirigidos por mulheres. Além disso, em 2015, o percentual de público dos lançamentos de filmes feitos por diretoras era de 27.7%, número que caiu para 8.8% em 2016. Dos 20,4 % dos títulos lançados e dirigidos por mulheres, 48.3% eram documentários. Enquanto que, dos 78.2% dos títulos dirigidos por homens, apenas 25.2% eram documentários.
Todos esses dados expõem condições que há muito tempo são naturalizadas no meio cinematográfico. O cinema ainda é um cenário no qual os homens carregam consigo o poder econômico e ideológico. Claro que nem toda diretora mulher quer dirigir um filme milionário, mas é necessário que mulheres passem a também serem uma opção de escolha dos grandes estúdios. Talvez, as
movimentações dos últimos anos