Tag: novelas
Rubí (Globoplay): o retorno da descarada
A Dona do Pedaço e as gafes de Walcyr Carrasco
Alto Mar, da Netflix, é a série novelão espanhol da vez
A Casa das Flores reinventa o dramalhão mexicano na Netflix
Associar o México às suas novelas melodramáticas -e conservadoras- é quase que automático em nosso imaginário popular. Há anos estamos acostumados a pensar no país como expoente intocável do gênero que consagrou novelas como A Usurpadora e Maria do Bairro. Contudo, na última sexta-feira (10) a Netflix lançou um respiro às convenções do gênero: =&0=&, série criada por Manolo Caro, chegou ao catálogo da plataforma com a enorme responsabilidade de trazer novos ares ao melodrama, sem perder os (jovens) fãs noveleiros.
Com 13 episódios (que rendem ganchos para uma nova temporada), a produção mexicana acompanha o cair das máscaras dos De la Mora, uma família de classe alta, cuja imagem exemplar de comercial de margarina é tão frágil quanto as pétalas das flores da floricultura da matriarca Virginia (Verónica Castro).
A trama começa quando a floricultura, negócio responsável por manter as tradições e o status da família De La Mora, vira palco de um trágico incidente. Roberta (Claudette Maillé), a amante do patriarca Ernesto (Arturo Rios), tira a própria vida no local, durante uma festa. A partir daí, a família passa a a fazer malabarismos para manter as aparências e, ao mesmo tempo, resolver seus perrengues e lidar com as novidades.
Os elementos de uma tradicional novela mexicana melodramática estão todos presentes na série; desde os exageros, confusões, conflitos de relacionamentos, segredos, traições e reviravoltas, até a teatralidade – expressa, principalmente, pela brilhante atuação de Cecília Suárez, a filha mais velha dos De la Mora. A novidade, entretanto, fica por conta da inserção de pautas que seguem sendo tabus no país, tais como machismo, transexualidade, bissexualidade, narcotráfico, vulnerabilidade infantil, racismo e até feminismo.
Mesmo assim, não espere uma série que trate desses assuntos com a seriedade tradicionalmente destinada a esse tipo de discussão. A Casa das Flores é uma comédia bastante afiada, e, como tal, usa de situações absurdas para confrontar ideias retrógradas, sem fornecer conteúdo mastigado ou soluções fáceis ao espectador. Por isso, todos os seus personagens são falhos. Todos fazem algo reprovável em algum momento. Não são personagens feitos para serem amados, mas são grandes e fundamentais para a dinâmica da narrativa.
Aqui, Manolo Caro se vale de um humor quase mórbido – que nasce da capacidade de nos fazer rir de nossa própria decadência enquanto sociedade – e de personagens com ares “Almodovarianos” (principalmente as mulheres, com suas personalidades bem demarcadas e existências que circulam entre cores, tragédia humana e força feminina), para confrontar os conservadorismos de folhetim. Assim, num primeiro momento, a trama pode parecer irresponsável, embora ela seja, na verdade, ácida e provocativa.
Em entrevista ao jornal El País, a atriz Cecilia Suárez apontou: “Me parece absurdo que possamos ver, às cinco da tarde, rifles e metralhadoras e que não vejamos um beijo entre dois homens ou duas mulheres. Permitimos a violência, mas não um ato amoroso”.
A Casa das Flores pode ser considerada, portanto, algo híbrido entre série e novela millennial (afinal, o que seria uma série senão uma novela millennial, não é mesmo?). Aliás, ao trazer Verónica Castro, o criador da série demonstra sua intenção de reinventar a novela mexicana sem perder sua essência. A atriz, que fez parte do elenco da popular Os Ricos Também Choram, é fundamental para estipular um diálogo entre o tradicional e o inovador.
Da mesma forma, a trilha sonora opera misturando jovens clássicos da música mexicana, como a canção Es Mejor Así, de Christian Castro, filho de Verónica, com música latina contemporânea, como Nuestra Canción, da banda colombiana Monsieur Periné.
Por tudo isso, é justo dizer: fãs de dramalhões mexicanos do mundo, uni-vos! A Casa das Flores chegou para dar um fim ao eterno dilema entre assistir a uma novela por gostar do gênero, mesmo sabendo que existem inúmeros problemas, ou não assistir à novela em questão e perder todas as emoções de um melodrama carismático.
=&1=& A novela mexicana no imaginário brasileiro
Leia também:
“Crítica: A Casa das Flores – 2ª Temporada”
O noticiário policial e a narrativa ficcional sensacionalista
Quando Eloá Cristina Pimentel foi sequestrada e mantida em cárcere privado por dias pelo ex-namorado Lindemberg Alves, em outubro de 2008, o Brasil inteiro parou para acompanhar o desenrolar do caso. Na época, todas as emissoras de TV voltaram-se massivamente para o evento que ficou conhecido como “Caso Eloá”. Eram 24 horas de transmissões, boletins, debates e exploração midiática.
Em suas últimas semanas, Malhação – Viva a Diferença é a melhor novela atual
Com a premissa de abordar o machismo e as diferenças de classe, etnia e orientação sexual, de uma forma mais compatível com a realidade, o público entusiasta se dividiu entre comemorar as temáticas escolhidas e ficar com um pé atrás diante de tanta propaganda sobre as “diferenças”.
Seria mesmo a novela capaz de falar sobre temas adolescentes de maneira – finalmente – verossímil?