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Leila, série original Netflix, tenta ser uma espécie de The Handmaid’s Tale indiana
5 motivos por que The Handmaid’s Tale é a série do momento
ATENÇÃO: Pode conter spoilers!
Lançada pela plataforma de streaming Hulu – ainda inédita no Brasil –, e exibida na televisão daqui pela Paramount Channel, The Handmaid’s Tale é uma das séries mais assistidas e comentadas da atualidade. Isso se dá, em grande parte, graças ao ganho de quatro prêmios Emmy no ano passado (de Melhor Atriz, Atriz Coadjuvante, Roteiro e Série Dramática).
Ambientada em uma sociedade totalitária e, consequentemente, distópica, a produção (inspirada no romance de Margaret Atwood e com duas temporadas completas) se passa em um futuro próximo e conta a história de uma aia – classe social empregada a mulheres consideradas imorais pela República de Gilead, e, por isso, escravizadas doméstica e sexualmente. Dessa forma, a cruel rotina de June (Elisabeth Moss), chamada de Offred pelos integrantes da casa-cativeiro “de luxo” em que é mantida, tem chamado a atenção da crítica especializada pela crueza e alta qualidade técnica com a qual é retratada.
Desde a primeira temporada, The Handmaid’s é tão bela visualmente quanto terrível em sua narrativa. E, a partir do mundo trágico em que June vive, assistir a essa série tão poderosa e brilhante é uma experiência enriquecedora. Leia alguns dos motivos para isso abaixo!
1. O principal ponto de vista é feminino
Além da narração de June em momentos-chave, todas as protagonistas da produção são mulheres. Paralelamente à história da personagem de Moss, temos Emily (Alexis Bledel), uma mulher lésbica e ex-professora, que também se tornou uma escrava de Gilead. Por fora, vemos pessoas obedientes e inexpressivas; por dentro, através de momentos de desabafo e narrações em off (somente a voz), deparamo-nos com mulheres extremamente sofridas e enraivecidas por sua condição degradante.
Outra forte figura da série é Moira (Samira Wiley), uma ex-aia refugiada no Canadá, que representa o grupo de pessoas reais que deixam seus países – para não serem mortas ou torturadas. Assim como June e Emily, Moira fora estuprada, e, posteriormente, optou pela prostituição como modo de fugir dos abusos submetidos às aias.
Quanto ao lado vilanesco de The Handmaid’s, ficamos com a desumana Serena (Yvonne Strzechowski) – esposa do Comandante Fred Waterford (Joseph Fiennes) e que, junto com ele, é a principal responsável pelos abusos contra June –, assim como a devota chefe das aias, chamada de Tia Lydia (Ann Dowd) pelos cidadãos do regime.
2. Diferente de inúmeras outras séries, não fetichiza a violência contra a mulher
[Coluna] O que é uma personagem mulher forte?
Cinderela foi salva da madrasta malvada e das irmãs invejosas quando o príncipe, finalmente, descobriu que era seu o sapatinho de cristal; Aurora, a bela adormecida, passou anos desacordada graças a maldição de Malévola, despertando apenas com o beijo de amor verdadeiro de seu príncipe encantado; Rapunzel foi isolada no alto de uma torre por outra bruxa má e seu destino só mudou quando um príncipe a encontrou por puro acaso; e Ariel negociou sua bela voz com a vilã Úrsula, em troca de um par de pernas para se aproximar de seu amado.
[Crítica] ‘The Handmaid’s Tale’ retorna com tudo (2ª temp., Eps. 1 e 2)
Na última quarta (25), a plataforma de streaming Hulu (não disponível no Brasil) liberou os dois primeiros episódios da segunda temporada de The Handmaid’s Tale, série baseada no romance O Conto da Aia, de Margaret Atwood.
Na última cena da temporada passada, a protagonista June (vivida pela excelente Elisabeth Moss) fora levada a um destino incerto, após provocar uma pequena revolta. A fim de salvar uma amiga de mesma posição social que ela (ambas, aias escravizadas doméstica e sexualmente), June inspirou suas demais colegas a seguirem o nobre ato. Assim, o cliffhanger – muito pertinente – do último episódio deu gás a uma sequência introdutória magistral, nesta temporada.
Começando exatamente do ponto em que parou, a aia principal da série (que fora adaptada à TV por Bruce Miller), é dirigida à um estádio abandonado para ser enforcada, assim como as demais mulheres de trajes vermelho-sangue. Acompanhamos, então, uma belíssima cena, na qual podemos “desfrutar” um pouco do mais profundo desespero, diante da morte iminente. Tal como na temporada anterior, as cenas do presente dos personagens são intercaladas com flashbacks de suas vidas passadas; ou seja, da vida que todos tinham antes de o fascista governo de Gilead acabar com os EUA que conhecemos.
June, agora muito mais rebelde e decidida, busca enfrentar, com suas limitações, todos aqueles que, deliberadamente, lhe deram a “alcunha” de Offred (título designado a quaisquer aias que, por ventura, viessem a trabalhar na mansão do Comandante Fred Waterford). Para piorar a situação, o Comandante (Joseph Fiennes) acredita piamente ser pai da criança esperada por June; – em Gilead, as aias, ou melhor, as poucas mulheres férteis dessa república distópica, são estupradas mensalmente por seus respectivos “donos”, e com o auxílio de suas esposas.
A autoritária e obsessiva Serena (Yvonne Strahovski), esposa do Comandante, não se importa com a origem de seu futuro bebê – gerado por aquela a quem chama de Offred. Desde a primeira temporada, percebemos Serena como uma mulher inescrupulosa, sem compaixão alguma e, até mesmo, ameaçadora a June.
No primeiro episódio desta temporada, nas poucas cenas em que aparece,
a Esposa nos passa, com facilidade, a sensação do perigo que se aproxima
Tudo o que sabemos sobre a 2ª temp. de The Handmaid’s Tale até agora
No ano passado, a plataforma de streaming Hulu liberou a primeira temporada da série baseada na obra de Margaret Atwood, The Handmaid’s Tale (O Conto da Aia, em tradução para o português). A produção acompanha a vida de aias escravizadas em uma sociedade patriarcal e totalitária, que prioriza a reprodução e a eugenia acima de quaisquer Direitos Humanos anteriormente conquistados pela população.
1. A DATA DE ESTREIA
No início deste mês, a Hulu anunciou que a segunda temporada da série tem data de estreia para 25 abril de 2018. Só faltam 3 meses!
2. O ENREDO
Segundo o showrunner Bruce Miller, a nova temporada vai acompanhar a rotina das colônias da fictícia Gilead – nação na qual os EUA teriam se tornado, num futuro distópico. Como praticamente toda a obra original de Atwood já foi adaptada nos dez primeiros episódios, desta vez, as subtramas contarão com a criatividade de sua produção, que trabalha na expansão do universo da história. Afinal, Miller afirmou recentemente, para o The Hollywood Reporter, que enxerga um longo futuro para a série, com até dez temporadas.
3. O RETORNO DE ALEXIS BLEDEL
A atriz Alexis Bledel (a Rory, de Gilmore Girls), que interpretou a aia denominada Ofglen, está confirmada para o elenco fixo de The Handmaid’s. E isso se deve, em grande parte, à sua marcante participação na temporada passada, que lhe proporcionou um Emmy de Melhor Atriz Convidada em Série de Drama. O que será que aconteceu à (não mais) Ofglen? Será que ela e Offred (Elisabeth Moss) vão se reencontrar? Aguardemos!
4. A PARTICIPAÇÃO DE MARISA TOMEI
10 coisas do Globo de Ouro 2018 que merecem a sua atenção
inúmeras famosas e anônimas acusarem o (ex-)produtor hollywoodiano Harvey Weinstein de abuso sexual
Análise: Alias Grace
ATENÇÃO: Este texto contém spoilers
Alias Grace (“Vulgo Grace”, em português) entrou para o catálogo da Netflix no último dia 3. A minissérie canadense da rede CBC é composta por seis episódios de aproximadamente 45 minutos cada, e foi baseada no livro homônimo de Margaret Atwood (que, por sua vez, é baseado em fatos reais). A série chega à plataforma de streaming logo depois do sucesso de The Handmaid’s Tale (O Conto da Aia), disponível na plataforma Hulu, e adaptação de outro livro da autora que foi aclamada pelo público, pela crítica e levou muitos dos prêmios do Emmy 2017.
A trama se passa na Toronto do século 19 e acompanha a trajetória de vida de Grace Marks (Sarah Gadon), uma imigrante irlandesa que abandonou seu país com a família por perseguição religiosa e, aos 16 anos, foi condenada à prisão perpétua pelo assassinato do patrão, Thomas Kinnear (Paul Gross) e da governanta, Nancy Montgomery (Anna Paquin), com quem o homem mantinha um relacionamento. Na época, Grace era vista como uma moça muito trabalhadora e bonita, incapaz de cometer um crime hediondo. Por isso, ao contrário da figura que fora considerada sua cúmplice, James McDermott (Kerr Logan), ela escapa da forca e recebe apoio de algumas pessoas que contratam um médico, Dr. Simon Jordan (Edward Holcroft), a fim de que ele possa afirmar que a jovem é inocente.
Os episódios mesclam os relatos de Grace ao médico – nos quais ela diz não se lembrar se é responsável pelos crimes dos quais é acusada –, flashbacks e os pensamentos da protagonista, que, devido a episódios de amnésia e surtos, também já havia passado algum tempo internada em um manicômio. Lá, Grace sofreu mais abusos e claramente não encontrou ninguém realmente preocupado com sua saúde mental. O objetivo de Dr. Jordan, então, seria estabelecer se a jovem sofre mesmo de falta de memória e se ela seria capaz de matar alguém.
Se você maratonou os seis episódios, deve ter percebido que não é uma tarefa difícil. Assim como The Handmaid’s, Alias Grace possui um enredo completamente envolvente e complexo – mesmo sendo uma série limitada e com ritmo um pouco mais acelerado, ao contrário da primeira que já tem próxima temporada confirmada.
Comandada por mulheres, com roteiro de Sarah Polley e direção de Mary Harron, a série também apresenta um viés feminista. Mas, aqui, não se trata de um sistema distópico que oprime e humilha mulheres, de um governo religioso e misógino ou de um universo macro. Nesta obra, o olhar feminista é lançado sobre o micro, o cotidiano das mulheres, em uma época onde ser mulher, pobre e estrangeira era sinônimo de uma vida miserável. Duro é perceber que, ainda hoje, mulheres nessas condições sofrem das mesmas situações de abandono e abuso, principalmente levando em conta as recentes crises migratórias que obrigaram muita gente a abandonar seus países.
É no dia a dia de Grace, e ao longo de seus anos, que o machismo é retratado; em cada homem que passa por sua vida, deixando uma ferida. Sendo esses homens seu pai alcoólatra, violento e abusivo, o patrão rico que se sente dono da empregada, o “colega de trabalho” que desenvolve uma obsessão doentia por ela ou o médico que deveria ajudá-la, mas também se torna obsessivo. Cada uma das ações desses homens acarreta em algum tipo de consequência na vida da protagonista, como ser julgada por homicídios que não sabemos se ela cometeu, até a importância que outras mulheres tiveram em seu caminho.
Grace Marks desenvolve relações diferentes com algumas mulheres que passam por sua vida, e cada uma delas é de fundamental importância nos rumos de seu destino. Durante a viagem de navio da Irlanda ao Canadá, a moça perde sua mãe, que era seu porto seguro frente ao desamparo do pai. A partir daí, Grace precisa tomar conta da família e cuidar de seus quatro irmãos menores, até o dia em que seu pai decide que ela deve procurar um emprego para sustentá-lo.
Ao arrumar um trabalho de empregada, Grace é surpreendentemente bem recebida por sua colega Mary Whitney (Rebecca Liddiard). Como ela mesma conta ao Dr. Jordan, a passagem de Mary por sua vida foi um dos momentos mais doces de sua existência. Mary foi uma amiga generosa, que lhe incentivou a ser corajosa, altiva e a sobreviver em um mundo injusto, cruel e cheio de homens violentos. Mas, a alegria dessa amizade não durou muito. A garota se envolveu com o filho da patroa, engravidou, foi desprezada por ele e preferiu correr o risco de abortar em uma clínica clandestina. Grace usa todas as economias para tentar ajudar a amiga, mas em seguida a perde devido a complicações do procedimento.
Esse momento é crucial para a protagonista. Ela entra em choque por perder a amiga, por perder outra vez um porto seguro e por presenciar tão de perto as consequências das violências sofridas pelas mulheres. Desde a física à emocional. Além disso, pela primeira vez acontece um de seus episódios de amnésia. E, não bastando tudo isso, o mesmo homem que abandonou Mary, e colaborou para sua morte, começa a assediar Grace.
Buscando fugir desses acontecimentos, Grace aceita trabalhar com Nancy, a governanta que mais tarde seria assassinada. A princípio muito doce e empolgada, Nancy logo demonstra ver em Grace uma rival e entrega que não pretende ser sua amiga. Mesmo não gostando dela, Grace aparenta entender que Nancy é vítima do mesmo machismo que ela sofre, e que a rivalidade é fruto de uma sociedade que faz mulheres competirem por um homem para terem algum lugar de destaque. E, esse homem que Nancy tanto quer, é o mesmo de quem ela esconde que está grávida para não perdê-lo, sabendo que, dela, ele só quer “diversão”.
Não sabemos se Grace é corresponsável ou não pelos assassinatos. Afinal, essa história realmente aconteceu e nunca surgiram evidências conclusivas. O que a série – assim como o livro de Margaret Atwood – permite, é que Grace possa conduzir sua própria narrativa. E por isso ela é uma personagem tão complexa. No período dos assassinatos Grace ficou muito famosa, muita gente falou sobre o caso, enquanto ela própria não teve a chance de ser dona de sua história.
No final, o que precisamos saber é que essa personagem passou por inúmeras violências, pela prisão, pelo manicômio e teve sua vida espetacularizada. Mas, no fundo, ela sempre carregou consigo todas as mulheres e experiências que atravessaram seu caminho. No último episódio, nos deparamos com uma cena muito significativa: Grace, que antes costurava para outras mulheres, agora costura sua própria colcha, em sua casa, com tranquilidade e após ter sido perdoada pelo governo. Isso simboliza, de forma muito tocante, que ela está livre, mas que nunca será livre de fato porque é uma mulher; porque outras mulheres não estão livres e porque perdemos muitas delas para o machismo no meio do percurso.
*Texto originalmente publicado em 09/11/17
Ficha técnica
Criação: Sarah Polley, Noreen Halpern
País: Canadá
Ano: 2017
Elenco: Sarah Gadon, Edward Holcroft, Anna Paquin, Rebecca Liddiard
Gênero: Suspense, Histórico
Distribuição: Netflix