Crítica: Diablero (2ª Temporada)

Depois de uma primeira temporada de grande repercussão no México – e com quase nenhuma divulgação no Brasil -, a série Diablero teve novos episódios lançados pela Netflix no último dia 31. Ainda mais segura de sua própria personalidade, a produção mantém um equilíbrio único entre humor, mitologia asteca e terror. 

Imagem: divulgação

Desta vez, o ponto de partida da trama se dá algum tempo após os acontecimentos apocalípticos do final da temporada anterior. Agora, os negócios do diablero Elvis Infante (Horácio Garcia Rojas) andam de mal a pior. Ao que tudo indica, os mexicanos têm preferido conviver com seus demônios e, por isso, Elvis não tem mais muito o que caçar. Keta (Fátima Molina), por sua vez, segue sem saber o paradeiro do filho; Nancy (Gisselle Kuri) tenta ser uma jovem normal; e Ventura (Christopher Uckermann), nem vivo nem morto, continua perdido por algum lugar do submundo  (Mictlan).

A monótona nova rotina do grupo é abalada quando Ventura finalmente tenta contato com os amigos e pede ajuda para impedir outro apocalipse. A partir de então, Elvis, Keta e Nancy encaram a missão de encontrá-lo e resgatá-lo. Ao mesmo tempo, Elvis é contratado pela misteriosa Lupe Reina (Ela Velden) para investigar um demônio que tem matado as funcionárias de seu bar. Aos poucos, as duas missões convergem, e segredos envolvendo a família Infante começam a ser desvendados.

REALISMO E FANTASIA

Talvez a maior qualidade de Diablero seja desenvolver, numa cidade populosa e urbana como a do México, repleta de demônios pessoais e sociais, um enredo fantástico que metaforicamente amarra contemporaneidade com mitologia. Além disso, a série acerta ao colocar no centro da narrativa um grupo de protagonistas profundamente “mundanos”; personagens que funcionam bem juntos, são carismáticos, complexos e errantes. Destaque para Elvis e Nancy, os mais espirituosos do grupo.

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Então, ainda sob um tom irreverente e por vezes pessimista de humor – associado principalmente à contínua sensação dos personagens de estarem sempre vulneráveis e à beira de um colapso – , Diablero segue sua incursão pelas margens sociais de uma metrópole do terceiro mundo, produzindo ótimos momentos de contraste entre comédia e drama – o que dizer, afinal, de Elvis remando numa boia de Flamingo em pleno limbo para tentar salvar os amigos?

E embora esta temporada dê maior atenção à resolução da identidade e do drama familiar de Keta, deixando as críticas sociais um pouco de lado, seu desfecho aponta para uma janela de possibilidades muito promissoras.

Também vale destacar que em meio a tantas produções medianas que cooptam de modo rasteiro discursos sobre pautas identitárias para usá-los como estratégia de marketing, a autenticidade das escolhas criativas da equipe de Diablero emerge como excelente respiro. 

PONTOS ALTOS

Apesar de contar com apenas 6 episódios curtos, sofrer de alguns problemas de transição e continuidade entre eles e ter deixado Ventura e sua filha de lado na trama, a segunda temporada da produção apresenta pontos altos importantes. Primeiro, a adição de Velden ao elenco feminino, o que pode render bons arcos futuros sobre diableras mulheres. Depois, a adoção de efeitos práticos que dialogam muito mais com a atmosfera do folclore mexicano, se afastam de qualquer expectativa sobre padrões hollywoodianos e contribuem com a originalidade da obra.

Por último, uma certa conclusão do conflito de Keta sobre o desaparecimento do filho deve obrigar o enredo a se aventurar por outros lugares do universo criado, fazendo render melhor as potencialidades da essência da série. Não à toa, portanto, os minutos finais da temporada indicam que prováveis próximos episódios pretendem nos transportar ao México do período da colonização. Logo, será no mínimo curioso descobrir como se dará a confrontação de um México recém invadido com o México contemporâneo. De uma coisa temos certeza: humor e demônios não vão faltar.

Leia também: Diablero leva folclore mexicano com qualidade para a Netflix

Ficha técnica – 2ª Temporada:

Criação: Pablo Tébar, José Manuel Cravioto

País: México

Ano: 2020

Elenco: Horácio Garcia Rojas, Fátima Molina, Christopher Von Uckermann, Gisselle Kuri, Ela Velden 

Gênero: Drama, Comédia, Terror

Distribuição: Netflix

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