Baseada no livro homônimo do jornalista Edney Silvestre, Se Eu Fechar os Olhos Agora estreia na TV aberta nesta segunda-feira (15), na faixa das 23 horas da Rede Globo. Disponível na íntegra para assinantes da Globoplay desde o dia 8, a minissérie em 10 capítulos será exibida na grade da emissora às segundas, terças, quintas e sextas.
A produção, roteirizada para a televisão por Ricardo Linhares e com direção artística de Carlos Manga Jr, é ambientada no início da década de 1960, na cidade fictícia de São Miguel, localizada na zona do café do interior do Rio de Janeiro.
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Numa tarde ensolarada, dois garotos de 12 anos, Paulo (João Gabriel D’Aleluia) e Eduardo (Xande Valois), matam aula para ir nadar no lago. Ali eles encontram, por acidente, o cadáver mutilado de uma jovem e bonita mulher, mais tarde identificada como Anita (Thainá Duarte), esposa do dentista da cidade.
A princípio, o delegado acusa os dois garotos pelo assassinato brutal da moça, mas em seguida o marido assume a culpa pelo assassinato. Descrentes da participação do homem idoso no crime e acreditando que a polícia local não tem interesse em buscar pelos verdadeiros culpados, os meninos começavam a desenvolver uma investigação paralela com ajuda do misterioso senhor Ubiratan (Antonio Fagundes).
Se Eu Fechar os Olhos Agora estreia com todos os elementos de uma boa e envolvente trama policial. Há uma comunidade repleta de segredos, disputas de poder, policiais corrompidos, queimas de arquivo, jornalistas dispostos a revirar o que está oculto e personagens infantis espertos e intrometidos. Além do que, a estética noir embala toda a São Miguel numa paleta de cores soturna e sombria, que revela o tom da relação dos habitantes – e suas posições sociais – com a dinâmica da cidade.
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A minissérie também vai além do clássico “quem matou?”, denunciando com vigor o conservadorismo hipócrita das elites brasileiras que dominam cada rincão do país e impõem ao povo, desde a colonização e através das esferas de poder político, ideológico, policial e religioso, corrupção e violências que só fazem aumentar as dívidas históricas com negros, trabalhadores, mulheres, lgbts e militantes políticos.
A investigação do assassinato serve, portanto, como fio condutor não apenas para chegar ao desfecho que revela um assassino, mas também para desenrolar uma porção de dramas envolvendo a elite local. O arco de cada uma das personagens constrói e expõe pensamentos e comportamentos opressores que transitam por toda a história do Brasil. É assim que a produção retrata, com destreza, a espinha dorsal da formação da sociedade brasileira, tal como ela é até hoje.
Regada a pitadas de suspense e símbolos do horror, Se Eu Fechar os Olhos Agora dá complexidade à jornada de descobertas dos personagens inserindo-os num contexto realista, carregado de racismo, misoginia, homofobia e mazelas sociais que desde sempre imperam sobre o cotidiano brasileiro.
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Aos mais atentos, algumas revelações do enredo podem soar previsíveis ao longo dos capítulos, mas nada que ofusque o encanto da adaptação, conduzida por um roteiro rico, complexo e comprometido e por uma direção artística impecável.
Além da performance do elenco de peso formado por nomes como Milton Gonçalves, Murilo Benício, Débora Falabella, Mariana Ximenes e Gabriel Braga Nunes, chama atenção a interação entre Antônio Fagundes e os dois protagonistas mirins. Os três são responsáveis por cativar o público e dar alguma leveza a esta trama espinhosa e intrincada.
Ao final, a produção opta, felizmente, por não se omitir, e numa cena dolorosamente sugestiva, dá a entender que as engrenagens que mantêm os privilégios do homem branco, cis, hétero, rico, preconceituoso e inescrupuloso seguem funcionando perfeitamente, sem nenhuma previsão de mudança efetiva do quadro.
Trailer:
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Ficha técnica
Criação: Ricardo Linhares
País: Brasil
Ano: 2019
Elenco: Thainá Duarte, Xande Valois, João Gabriel D’Aleluia, Milton Gonçalves, Antonio Fagundes, Murilo Benício, Débora Falabella, Mariana Ximenes
Gênero: Drama, Policial
Distribuição: Globoplay
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