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Conheça os 14 filmes latino-americanos que tentam uma indicação ao Oscar 2019 de Melhor Filme Estrangeiro
Fim de ano chegando e, com ele, a época dos apaixonados por cinema começarem a pensar no próximo Oscar. As indicações oficiais acontecem somente no final de janeiro, mas os países que estão na corrida por uma indicação à categoria de Melhor Filme Estrangeiro já escolheram seus pré-indicados; dentre eles, muitos filmes latino-americanos.
Nesse período de corrida pelo Oscar, maior cerimônia de premiação do cinema mundial, cada país seleciona o que acredita ser o melhor de sua safra cinematográfica do ano correspondente. Pensando, então, em aumentar o contato do público brasileiro com o tem sido feito de melhor no cinema latino-americano, organizamos esta lista com breves comentários sobre os filmes latinos que tentam uma indicação ao 91º Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Acompanhe:
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A Academia Colombiana de Artes e Ciências Cinematográficas anunciou que Pájaros de Verano será o filme que representará a Colômbia na busca por uma indicação ao Oscar 2019 de Melhor Filme em Língua Estrangeira.
Co-dirigido por Cristina Gallego y Ciro Guerra, o longa acompanha a história de uma família indígena de origem Wayuu que enfrenta dilemas entre traficar drogas ou proteger sua ancestralidade no auge da década de 1970, quando a venda de maconha aos Estados Unidos era um negócio lucrativo.
O diretor Ciro Guerra já conseguiu uma indicação nessa mesma categoria no Oscar 2016, com o filme O Abraço da Serpente. Além disso, Pájaros de Verano foi premiado, recentemente, pelos Prêmios Fénix de cinema ibero-americano.
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A Academia de Artes Audiovisuais e Cinematográficas do Equador escolheu o longa-metragem Un Hijo de Hombre. La maldición del tesoro de Atahualpa para representar o país na busca por uma indicação à categoria de Melhor Filme Estrangeiro do Oscar 2019.
Dirigido por Luis Felipe Fernández-Salvador e Campodónico, mais conhecido como Jamaicanoproblem, e Pablo Agüero, o filme retrata uma dinastia de exploradores que foram enviados ao território Inca pela coroa espanhola depois do descobrimento do Novo Mundo.
Essa é uma história real, filmada pelos diretores sem atores, roteiros e sem usar estúdios de gravação. A intenção da dupla de diretores é fomentar a preservação da biodiversidade das selvas equatoriais, exibindo a obra mundialmente e transmitindo essa mensagem.
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La Familia, primeiro longa-metragem de Gustavo Rondón Córdova é o filme escolhido pela Venezuela para tentar uma indicação à categoria de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2019.
A trama retrata uma relação disfuncional entre pai e filho; Andrés (Giovanni García) e Pedro (Reggie Reyes). Os dois vivem em um bairro operário de Caracas, de onde precisam fugir quando algo violento acontece.
Usando a atual dinâmica social e econômica da Venezuela como pano de fundo, Córdova se preocupou em fazer um filme universal, que trate de relações humanas e laços afetivos – com seus bônus e ônus.
Em entrevista à Radio Televisión Nacional de Colombia, o diretor declarou: “O filme explora, de alguma maneira, esse estado de paranoia, de transação constante. E explora porque é o que sinto como habitante e penso como indivíduo.
No meu país, uma das coisas mais graves é que todas as relações estão passando por transações, e isso gera individualismo exacerbado. Por isso coloquei como ponto inicial um pai que trabalha, trabalha e trabalha; como se estivesse em estado de inércia, esperando que seu filho se crie sozinho, até que o tempo passe e o garoto possa viver sua própria vida. O que o filme faz é, justamente, forçar esse personagem a tomar responsabilidade pelo outro. Isso era algo que eu queria explorar, falar de alteridade.”
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Os membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas do Paraguai designaram As Herdeiras como filme que representará o país na busca por uma indicação ao Oscar 2019 de Melhor Filme Estrangeiro.
Dirigido por Marcelo Martinessi, o filme conta a história de Chela e Chiquita. Herdeiras de uma família rica no Paraguai, elas vivem confortavelmente há 30 anos. Quando percebem que as economias estão acabando, passam a vender seus bens. Porém, Chiquita vai presa por fraude e Chela decide começar um serviço de táxi para senhoras ricas, enquanto se acostuma com a nova realidade.
No Brasil, o longa estreou dia 30 de agosto, distribuído pela Imovision.
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10 filmes latinos para assistir na 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
A 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo traz à cidade, entre os dias 18 e 31 de outubro, uma seleção de cerca de 30 títulos produzidos por países latino- americanos, como Chile, México, Equador, Argentina e Guatemala. Alguns deles foram premiados em festivais internacionais, outros foram pré-indicados por seus países de origem para concorrerem ao Oscar 2018 de Melhor Filme Estrangeiro.
Para te ajudar a montar a sua programação, selecionamos alguns dos títulos, dirigidos por homens e mulheres, que serão exibidos durante a Mostra. Acompanhe:
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=&1=& Nancy é convidada a participar de um programa de televisão sobre mistérios nunca resolvidos, cujo episódio irá contar a história de sua filha, uma jovem lésbica que foi brutalmente assassinada – um crime que permanece há oito anos sem solução. Enquanto decide se participará ou não da atração, Nancy confronta sua família para saber a versão de cada um sobre os eventos do passado e, aos poucos, descobre mais sobre a vida da filha.
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=&1=& Cruz, policial de uma região rural, investiga o bizarro caso do corpo de uma mulher sem cabeça que foi encontrado em uma parte remota da Cordilheira dos Andes. David, o marido da amante de Cruz, Francisca, torna-se o principal suspeito e é enviado para um hospital psiquiátrico. David culpa o crime pela inexplicável e brutal aparição de um “monstro”. O policial, então, se depara com uma misteriosa teoria envolvendo paisagens geométricas, motociclistas da montanha e um mantra constante em seus pensamentos: “mate-me, monstro”.
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XXY: intersexualidade no cinema argentino
Alex (Inés Efron) nasceu com características sexuais femininas e masculinas. Tentando poupar a filha dos preconceitos de terceiros e de médicos que queriam “corrigir” a genital da criança, Kraken (Ricardo Darín) e Suli (Valeria Bertuccelli) se mudaram da Argentina para uma pequena vila no Uruguai. Anos mais tarde, a família recebe a visita de um casal de amigos e de seu filho Álvaro (Martín Piroyansky). É então que Alex, agora com 15 anos, e o jovem visitante começam sua própria jornada de descobertas sobre identidade de gênero e orientação sexual.
[Estreia] Los Territorios: a jornada do individual em detrimento do coletivo
Em =&0=&, nosso personagem principal é Iván Granovsky (também diretor do longa), um sujeito que tentou se formar em história e acabou fazendo cinema. Depois, tentou fazer alguns filmes com assuntos relevantes, mas não teve compromisso para terminá-los.
Ofuscado pelo prestígio do pai – um importante jornalista argentino que passou a vida entre editorias internacionais, viagens por diversos países, entrevistas com as mais diversas personalidades e registros de importantes momentos da história – e sem conseguir produzir conteúdo, Iván decide começar um novo projeto audiovisual para falar sobre como é produzir conteúdo, mas isso lhe exige mais do que talvez possa, seja capaz ou esteja disposto a fazer.
Representando – em algum grau – as novas gerações que têm acesso a mais conhecimento mas não sabem como aplicá-lo, Iván sente que é o momento de “ir para a linha de frente” dos acontecimentos internacionais e encontrar algum sentido não medíocre para sua vida. Assim começa sua peregrinação rumo aos maiores conflitos geopolíticos da contemporaneidade – financiado pelos cartões de crédito da mãe.
Em meio a sua jornada pessoal de auto-afirmação, o protagonista deixa bem claro, através de seu comportamento, que suas maiores preocupações são individualistas. Ele não quer mudar o mundo ou usar seu filme como ferramenta de debate. Ele quer provar para si mesmo, para o pai e para o espectador que consegue fazer “coisas grandiosas”.
O filme, por sua vez, corrobora as intenções do protagonista com edição e montagem. Iván passa pelas manifestações de 2013 no Brasil, aparece preocupado em ter uma boa foto com o presidente Lula, explora o pós-ataque ao jornal francês Charlie Hebdo, a crise de refugiados na europa e o sofrimento do povo palestino segregado pelo muro de Gaza.
Nenhum desses conflitos é abordado com profundidade em Los Territorios, e nem seria essa a intenção. Ao passar superficialmente por questões tão caras a atualidade, a produção monta seu mosaico intercalando as viagens do diretor com mensagens de uma mãe furiosa com os gastos do cartão, um pai que sempre tenta ajudar, bandeiras de países diversos e musiquinhas de games antigos.
Passar pelos lugares e explorá-los com algum descaso é realmente tudo que o aventureiro consegue fazer. Por isso, a pergunta que fica é: quanto há de apropriado em estar presente num local de conflito em benefício próprio? Não parece haver nada de verdadeiramente enriquecedor em apenas provar a si mesmo que é capaz de ir até lá e ter “boas histórias para contar depois”, sem necessariamente se importar com as pessoas envolvidas ou com algum tipo de solução. Sem expressar o mínimo de indignação.
Los Territorios chega a ser arrastado em alguns momentos, reforçando demais e sem necessidade a mesma mensagem, mas também é provocador, sutilmente violento ao escancarar a brutalidade da indiferença com o coletivo e até bem humorado ao tratar da mesquinhez humana. Além disso, o longa levanta uma discussão recorrente nos campos do jornalismo, do documentário e da fotografia: como noticiar e registrar sem explorar a miséria do outro?
Iván Granovsky diz não ser muitas coisas, mas seu filme é ousado. Uma narrativa conduzida a partir do próprio diretor, disposto a usar sua persona para gerar desconforto. Sem entregar suas intenções com facilidade, mas causando exatamente o tipo de reação que planejou, Granovsky parece zombar com acidez das gerações do imediatismo superficial. Em tempos de impaciência, um filme como este é de uma beleza singular.
Como complemento, a Sessão Vitrine Petrobras, responsável pela distribuição de Los Territorios, exibirá, antes do filme, o curta-metragem The Beast, dirigido por Michael Wahrmann (coprodutor do lançamento de Granovsky) e pela Sul Africana Samantha Nell, e exibido na Quinzena dos Realizadores de 2016, do Festival de Cannes.
The Best acompanha um dia num parque temático da África do Sul. Ali, funcionários e turistas (brancos) convivem em uma espécie de harmonia desarmônica. Por um lado, cada funcionário do parque sabe exatamente como se comportar diante de turistas que os enxergam como seres excêntricos e que buscam somente viver a experiência da África performática (tribal, colorida, selvagem, primitiva), que habita o imaginário coletivo preconceituoso. Mas, por outro lado, essas pessoas demonstram ter plena consciência da problemática de seus empregos. Dos problemas de representatividade e dos prejuízos da manutenção de estereótipos.
Los Territorios e The Beast compartilham do mesmo formato narrativo sutil, assertivo e nem um pouco digesto e do mesmo humor sofisticado e funcional (presente em outros filmes argentinos, como O Cidadão Ilustre e Medianeras). Juntos, eles proporcionam importantes reflexões sobre o olhar que vem do outro e as consequências desse olhar no dia a dia de quem é, de alguma forma, espetacularizado.
Trailer de Los Territorios:
Conheça os ganhadores da quinta edição do Prêmio Platino, o Oscar do cinema latino
Na noite de ontem (29) aconteceu a 5ª edição da cerimônia do Prêmio Platino do cinema Ibero-Americano (transmitida no Brasil pelo Canal Brasil). A premiação, que este ano foi sediada na Riviera Maya, México, é uma importante vitrine para divulgar as produções cinematográficas e televisivas da América Latina, Espanha e Portugal. A partir da lista de indicados podemos ter contato com parte do que há de melhor no cinema de países que são tão pouco contemplados pelas grandes premiações da indústria internacional.
Nesta edição, o Brasil concorreu em cinco categorias, mas apenas Renata Pinheiro saiu premiada por Melhor Direção de Arte pelo filme Zama. Em seu discurso, a brasileira falou em português, agradeceu a diretora Lucrecia Martel e pediu por Lula Livre, marcando a presença política do Brasil na premiação.
As outras indicações brasileiras foram: Melhor Música Original (para Plínio Profeta por O Filme da Minha Vida), Melhor Animação (para História Antes de Uma História e Lino – Uma Aventura de Sete Vidas), Prêmio Platino Ao Cinema e Educação em Valores (para Como Nossos Pais) e Melhor Interpretação Masculina em Minissérie ou Telessérie (para Júlio Andrade por Um Contra Todos).
Igualdade de gênero foi a pauta principal da quinta edição do Prêmio Platino, mas diferente do Oscar, o assunto não ficou restrito apenas ao discurso dos vencedores. Dentre as indicações, chamou atenção a quantidade de mulheres presente nas categorias. Dos dez indicados a Melhor Direção e Melhor Roteiro, cinco eram mulheres. Duas diretoras e três roteiristas.
Logo no início da noite, o apresentador Eugenio Derbez também fez questão de ressaltar que a estátua da premiação é uma mulher. Mais tarde, uma batalha de rappers (um mexicano e um espanhol), pediu pela união do cinema ibero-americano e pela revolução ibero-americana e feminista. Além disso, as categorias de Melhor Ator e Melhor Atriz (tanto de cinema, quanto de série de TV) foram apresentadas juntas, em nome da igualdade.
O grande vencedor da edição não surpreendeu ninguém, mas fez valer suas vitórias. Depois de levar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, Uma Mulher Fantástica, do chileno Sebastián Lelio, levou cinco dos noves prêmios em que foi indicado, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Atriz, para Daniela Vega. A atriz aproveitou seu discurso para dizer que falar sobre o direito das mulheres é uma moda muito bonita, mas não passageira. Ela ainda pediu uma salva de palmas em homenagem às mulheres ibero-americanas.
Durante o evento, alguns outros discursos também chamaram atenção. O apresentador salientou a importância de pagar por obras latinas, como atitude de fomento à nossa indústria que já é tão desvalorizada. Já a atriz Adriana Barraza, conhecida por trabalhar com o diretor Alejandro G. Iñárritu em Amores Brutos e Babel, recebeu um prêmio de honra pelo conjunto de sua carreira e aproveitou para homenagear os três estudantes de cinema mexicanos que foram mortos pelo narcotráfico. Barranza ainda falou contra a violência e pediu para que o México cuide de suas crianças e de seu futuro.
A noite, que começou com um belo vídeo sobre a potência do cinema ibero-americano – com destaque para o ano de 2017, que produziu mais de 850 filmes, de 23 países – terminou com uma magnífica apresentação folclórica mexicana. Mesmo com sua jovem trajetória de cinco anos, o Prêmio Platino se consagra como evento essencial para a nossa indústria.
Confira a lista de indicados e ganhadores:
MELHOR FILME IBERO-AMERICANO DE FICÇÃO
A Cordilheira (Argentina, Espanha) – Disponível no Google Play
A Livraria (Espanha) – Disponível na Netflix
Últimos Dias em Havana ( Cuba, Espanha) – Disponível no Google Play
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Zama ( Argentina, Brasil, México, Portugal e Espanha) – Disponível no Google Play e Looke
MELHOR DIREÇÃO
Alex de la Iglesia por Perfeitos Desconhecidos (Espanha) – Disponível na Netflix
Fernando Pérez por Últimos Dias em Havana ( Cuba, Espanha)
Isabel Coixet por A Livraria (Espanha)
Lucrecia Martel por Zama ( Argentina, Brasil, México, Portugal e Espanha)
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MELHOR ROTEIRO
Carla Simón por Verão 1993 (Espanha) – Disponível no Google Play
Fernado Pérez e Abel Rodríguez por Últimos Dias em Havana (Cuba, Espanha)
Isabel Coixet por A Livraria (Espanha)
Lucrecia Martel por Zama ( Argentina, Brasil, México, Portugal e Espanha)
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MELHOR MÚSICA ORIGINAL
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Arábia é a prova de que o cinema nacional é especial e pulsante
O cinema nacional anda a todo vapor, produzindo obras primas contemporâneas que abordam questões profundamente brasileiras e urgentes. Nos últimos anos, filmes como Que Horas Ela Volta?, Era o Hotel Cambridge, Como Nossos Pais, Branco Sai, Preto Fica e Hoje Eu Quero Voltar Sozinho despontaram como preciosidades do nosso cinema. Agora, com a estreia de Arábia, vencedor da categoria de Melhor Filme do Festival de Brasília 2017, essa lista só tem a ganhar.
Dirigido por Affonso Uchoa e João Dumans, Arábia começa tomando as telas de cinema com um belíssimo e impecável plano sequência do personagem André (Murilo Caliari) pedalando pela paisagem de Ouro Preto. André é um jovem que, com ajuda da tia enfermeira, precisa cuidar do irmão caçula que sofre de problemas respiratórios causados (provavelmente) pelos resíduos da fábrica de alumínio próxima à sua casa. Os pais dos garotos se ausentam por longos períodos de tempo para trabalhar, deixando a cargo do filho mais velho as responsabilidades cotidianas da casa.
A certa altura do primeiro ato do filme, Cristiano (Aristides de Sousa), um funcionário da fábrica, se acidenta. André, atendendo ao pedido da tia, vai até a casa de Cristiano pegar algumas roupas e encontra o diário do operário. A partir daí, a narrativa sofre uma reviravolta corajosa e muda o protagonismo para a vida de Cristiano – que se torna também narrador.
Até o momento em que o título do filme surge preenchendo a tela, André parecia ser o protagonista da trama, afinal, trata-se de um personagem um tanto quanto melancólico e solitário, que carrega consigo questões importantes, como a ausência dos pais, que precisam dedicar tempo integral ao trabalho para conseguirem dar uma vida minimamente confortável aos filhos.
Mas, quando Arábia toma outro rumo e migra o foco para Cristiano, a abordagem sobre a relação indivíduo e trabalho se torna extraordinariamente significativa. Uma infinidade de pautas que são tratadas diariamente no país – principalmente no momento em que estamos, onde um governo ilegítimo tenta minar todo e qualquer direito do trabalhador, das classes menos privilegiadas e das minorias – passam a ser expostas de forma absolutamente especial. Delicada e crua, ao mesmo tempo. Poética, cruel e, ás vezes, embalada por uma trilha sonora emocionante e muito brasileira.
Cristiano é um indivíduo. Sua trajetória é particular, sem dúvidas. Mas sua vida está ali, exposta, representando o trabalhador brasileiro e todos aqueles que são marginalizados de alguma forma. Todos aqueles que são invisibilizados e possuem seus direitos negados constantemente, dia após dia, nas mais variadas circunstâncias.
O protagonista de Arábia é vítima direta de uma sociedade que se diz “de bem”, mas que exclui um homem que já foi preso e já cumpriu sua pena. Um homem que, mais tarde, é jogado à desumanidade de uma série de trabalhos irregulares e insalubres que não lhe garantem o mínimo de dignidade. Cristiano é alguém que pensa seu papel no mundo constantemente, mas percebe que sozinho não consegue medir forças com a engrenagem que o massacra cotidianamente.
Apesar de duro, o filme mineiro é “generoso” em oferecer ao espectador o tempo necessário para a assimilação de tudo o que foi visto. Depois de escancarar a ferida, Arábia se fecha em uma tela preta de alguns segundos. Alguns dos segundos mais duros e necessários que o cinema brasileiro poderia proporcionar.
Veja o trailer de Arábia: